sábado, 1 de dezembro de 2007
Querido Intruso
O alienígena que atende pelo nome de Goldenstais Dinamóvski disse, em entrevista exclusiva, que sempre foi muito criticado em seu planeta por ter mania de imitar os terráqueos. Ele gostava de comer feijões e, em seguida dar quatro cambalhotas. Esse hábito era absolutamente condenável pelos habitantes do Planeta Vermelho, uma vez que o feijão é o alimento mais sagrado do lugar, apenas oferecido aos Santos marcianos e a cambalhota é o símbolo do profano, do ilegítimo.
Goldenstais contou que desde muito pequeno ele ouvia as histórias do pai - um conhecido inventor do Planeta Vermelho e criador do maior invento que se tem notícia em Marte: uma nave espacial intergaláctica que é capaz de voar por muitos dias utilizando a energia de apenas uma estrela – e tinha vontade de conhecer a Terra. Porém seus pais, muito conservadores, não permitiriam jamais que ele saísse de seu planeta natal pra viver no Planeta Azul.
A única solução que Dinamóvski encontrou para libertar-se do sofrimento de viver em um lugar onde não se sentia feliz foi cometer a pior das injurias que um marciano pode cometer. Foi então que ele se encheu de coragem, arquitetou um plano e matou uma abelha. Aquilo foi demasiado para seu povo, que, após um longo julgamento decidiu por mandá-lo embora para sempre do quarto planeta do sistema solar.
Depois de dois meses buscando o caminho que o traria para a Terra, Goldenstais finalmente pousou com sua moto espacial em Porto Alegre. Instigado pela curiosidade de conhecer mais a fundo os hábitos dos moradores de seu novo planeta ele decidiu sair para fazer uma pesquisa de campo e decidiu infiltrar-se por entre as pessoas de um bar local. Porém não passou muito tempo até sua estranha presença ser notada. Menos de três minutos após ter entrado no bar foi surpreendido por algo que nunca havia ouvido antes em sua vida: gritos de uma mulher que se assustou profundamente com a bizarra figura que se apresentava a sua frente.
Não era de se estranhar que seu ser causasse espanto entre os cidadãos de Porto Alegre. Alguém com 2, 30 metros de altura, a largura de uma xícara de cafezinho e a pele arroxeada não é difícil causar furor entre os habitantes de nosso planeta. Dinamóvski, no entanto, não se deixou abater pelo susto inicial que causou entre os porto alegrenses e diz ter planos de constituir uma família e viver aqui uma vida cheia de paz e tranqüilidade. Dentro de alguns dias o simpático Dinamóvski já havia feito alguns amigos que o levaram para conhecer mais dos hábitos regionais. Ao ser questionado por nossos repórteres sobre o que o agradava mais na cidade ele respondeu sem demora: “as moças, que são muito belas, além, é claro, do feijão, que eu já conhecia”. Ao que tudo indica o querido intruso entre os terráqueos já aprendeu rapidamente algumas das coisas boas da nossa Terra: as paixões e a boa comida.
Na próxima quinta-feira, às 17 horas, haverá uma festa oferecida pela Prefeitura de Porto Alegre para dar as boas-vindas oficiais ao nosso terráqueo por opção. Líderes de todas as partes do mundo virão para prestigiar o primeiro marciano a colocar os pés na terra.
Goldenstais Dinamóvski, o Planeta Azul se orgulha de ti.
Carolina Marquis
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Duas doses abaixo

É só lembrar Casablanca e o seu personagem Rick Blaine. O galã respondeu sobre sua nacionalidade com a inesquecível frase “Eu sou um bêbado”. Era ficção, mas era Bogart. Afinal, ele mesmo disse: “O mundo está sempre duas doses abaixo”. O amargo mocinho de Holliwood, o boêmio solitário que casava e descasava virgensinhas safadas, o fumante e o amigo íntimo do álcool morreu em 1957 devido a um câncer no estômago. Ganhou o Oscar de melhor ator em 1951 pelo seu primeiro filme colorido, The African Queen (Uma aventura na África), dirigido por John Huston.
Gangsters, bandidos, policiais e românticos. Todos com a bela falsidade estética - a mentira pela arte - uma confusão de sentimentos que se espalham pelos diálogos e caretas mais famosos do cinema antigo americano.
Com a musa Ingrid Bergman, a protagonista feminina de Casablanca, ele mal se comunicou durante as filmagens. A moça comentaria anos depois: “Eu o beijei, mas nunca o conheci”. Ou seja, Ingrid traduziu o mito Humphrey DeForest Bogart da maneira mais perfeita possível. Será que alguém realmente o conheceu?
Yvonne: "O que você fez ontem à noite?"
Rick: "Faz muito tempo para que eu me lembre."
Yvonne: "E o que vai fazer hoje à noite?"
Rick: "Não costumo fazer planos a longo prazo"
cena célebre de Casablanca
Bruno Goularte
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Das coisas
Bruno says:
vai postar hoje?
Ricardo
to pensando oq escrever mas nao sei
Ricardo
ideia?
Bruno says:
cara
Bruno says:
nao tenho idéia nem pra mim
Bruno says:
ta foda
Bruno says:
vamos ter que começar a fazer coisas
Bruno says:
senão eu vou virar igual o FHC
Bruno says:
e é muito foda
Ricardo
hahahaha
Ricardo
pior
Ricardo
tem as entrevistas ai no teu gravador, da pra prepararmos alguma
Bruno says:
aham...
Bruno says:
mas eu to pensando mesmo em dar voz a minha geração
Bruno says:
uhaha
Bruno says:
conselho do diabo né cara
Ricardo
ué
Ricardo
vai lá
Bruno says:
mas quem da nossa faixa etária ta fazendo algo interessante?
Ricardo
eu seguirei junto
Ricardo
ngm
Ricardo
q eu saiba
Ricardo
mas q q tu quer fazer?
Bruno says:
pois é
Bruno says:
não, é que ficar puxando o saco da velha guarda é foda
Bruno says:
queria mostrar o que tem de novo, gente tocante
Bruno says:
e não entrevistar nos padrões
Bruno says:
tipo, tu senta com o entrevistado e não entrevista ele, fica-se bebendo mate, ou cerveja, ou... e conversando
Bruno says:
ai da conversa tu tiras o ponto de raciocínio que teu texto vai ter
Ricardo
claro acho afude isso, so q ngm começa assim
Bruno says:
se grava a conversa, depois vai embora, reflete sobre ela e escreve
Ricardo
tem q fazer q nem a fogo na franja, tenta entra de uma maneira no meio e qd ta dentro, muda e faz do jeito q quer
Bruno says:
porque a conversa gera mais pensamento do que pergunta e resposta fechada, além do mais que é um jornalismo opinativo a foder, porque tu não vai dar opinião sobre o que o fulano falou e sim vais dar opinião junto com ele...
Ricardo
claro essa é maneira mais afude
Bruno says:
sim, e ninguém faz isso
Ricardo
so q são poucos q querem fazer assim
Bruno says:
mas ai que entra a coisa, de achar os entrevistados, descrever a nova juventude legal...
Bruno says:
claro assim é dificil
Ricardo
o foda é começar
Ricardo
ainda mais agora
Ricardo
mas só indo atrás pra da certo, ou errado, tanto faz
Bruno says:
sim
Bruno says:
se eu não fizer nada interessante eu vo me deprimir com essa faculdade
Bruno says:
hehe
Bruno says:
ja to de saco cheio um pouco
Ricardo
eu to seriamente desanimado com a famecos
Ricardo
to pensando seriamente em mudar pra noite pra ver se é outro clima
Ricardo
ou tenta fabico no extra vestibular
Ricardo
mas o foda é q nenhuma das opções me anima
Bruno says:
não me animam em nada
Bruno says:
hehe
Bruno says:
acho que a noite o pessoal é menos ligado ainda, porque tem um monte que trabalha e tal...
Ricardo
na real eu tava afim de pegar e sair viajando por ai
Bruno says:
sim
Bruno says:
bah
Ricardo
na locura, ganhando grana e gastando
Bruno says:
se um dia nada der certo na profissão eu vo viver assim
Bruno says:
heheh
Bruno says:
foda é que tem que ser meio egoista
Ricardo
meio
Ricardo
o cara tem q viver só pra ele e q se foda o resto
Bruno says:
... não sei se eu sei ser assim
Ricardo
pois é
Ricardo
mas se bem que, da pra tentar ser não tão assim
Ricardo
che guevara foi hahahahah
Bruno says:
mas tava vendo agora, voltando ao assunto de antes, a classe jovem, da nossa média de faixa etária não faz nada
Bruno says:
pra mostrar pros outros, cultural, social ou politico
Bruno says:
só o teatro
Ricardo
sim eu sei, e reclamo todo dia disso
Bruno says:
que pouca gente assiste
Ricardo
por isso o saudosismo
Ricardo
so q fazer oq?
Ricardo
Oq, nem é o problema
Ricardo
mas como?
Bruno says:
por isso que a gente tem que pegar a pouca gente que faz pra dialogar
Bruno says:
ih rapaz
Bruno says:
o gremio empato!
Ricardo
capaz
Bruno says:
sim
Bruno says:
2 a 2
Ricardo
se perdesse era pra fude o inter certo
Ricardo
haha
Bruno says:
amanha temos que ganhar senão tamo fodido
Bruno says:
já perdemos uma posição
Ricardo
bah
Ricardo
q horas é o jogo?
Bruno says:
oito e meia
Bruno says:
tem que ver o jogo amanhã
Bruno says:
e nao da pra ser no garcias
Ricardo
pois é
Ricardo
vamos assistir
Bruno says:
nem no bar perto da tua casa
Bruno says:
sim...
Ricardo
não aqui perto não
Ricardo
haha
Bruno says:
temos que achar um bar que a gente ganhe
Bruno says:
hehe
Ricardo
e q a ceva seja barata
Ricardo
7 e 30 saímos vagando por poa atrás de um
Bruno says:
aham
Ricardo Araujo
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
A Grande Vaia

O protesto é uma movimentação chamada A Grande Vaia que ocorrerá em diversas capitais brasileiras.
Chega de pensar na novela e deixar a REALIDADE em segundo plano. Façamos algo por nosso país.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Poesia
Leia, escute e obtenha mais informações sobre a obra e seus idealizadores no site : http://www.navevazia.com/trinta/
Fabricio Carpinejar
Bruno Goularte
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Geração Coca-Cola
Mostra a tua cara"
Quando Cazuza cantou essas palavras às pessoas mostravam a cara. Hoje, quando escutamos essa mesma frase, quem mostra a cara são essas mesmas pessoas de anos atrás. Infelizmente!
Infelizmente porque na época em que eles ainda sofriam os resquícios da ditadura, quando a liberdade ainda era indefinida e quando o jovem era apenas um jovem, eles tinham, não a coragem, mas à vontade de mostrar a cara. E hoje, quando os jovens não sofrem mais pela ditadura, quando a liberdade não é nem discutida e quando o jovem é futuro da nação, eles nem se importam em pensar em mostrar a cara.
Alias, para que mostrar a cara?
Reclamar apenas não adianta. Criticar sem mostrar soluções não tem justificativa. Exigir respeito sentado na frente do computador não é o caminho certo. Não se preocupar em mudar (melhorar) o local onde vive é burrice, alienação, conformismo, é a grande parte dos jovens de hoje.
Na manifestação ocorrida no último dia 16, em Porto Alegre, das mil pessoas que foram avisadas e convidadas a participar, cerca de 30 estiveram lá. Sendo que dessas 30, mais ou menos 15, não foram avisadas no circulo dessas mil anteriores.
Se isso fosse um dado preocupante, pior é saber que das pessoas consideradas o futuro da nação, cerca de 10 “representantes” estiveram lá. Jovens recebiam panfletos, adesivos, viam a manifestação caminhando de lá para cá, protestando contra toda vergonha que acontece em nossa política, mas não se juntavam a ela. Enquanto isso, pessoas de 60 anos, ou mais, se interessavam, queriam saber o porque, contavam histórias e diziam que faziam a mesma coisa quando tinham nossa idade. Falavam que lutaram pelo Brizola, que encaram a ditadura, que pediram as Diretas Já. E, se juntavam na caminhada.

O futuro da nação é preocupante.
Ricardo Araujo
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Gritemos Juntos
Renan Calheiros não foi cassado. E agora? Esperar que os outros dois processos contra ele corram para, mais uma vez, ter a confirmação de que a desonestidade tem lugar privilegiado no Brasil? O dinheiro do CPMF que deveria ser investido na melhoria da saúde pública vai para algum lugar obscuro que não se sabe onde. Os investimentos em educação são ínfimos, o que está gerando cada vez mais desigualdade cultural e, por conseqüência, social. O problema do Brasil, ou melhor, dos brasileiros, é que eles pensam que o que acontece na política não os afeta. Estão errados, obviamente.
Esta semana assisti à palestra do colunista da revista Veja Diogo Mainardi. Parte do que ele fala tem coerência. Além disso, ele conta com um poder de persuasão que te faz, em um primeiro momento, dar mais crédito a suas palavras do que elas realmente merecem. Mainardi, ao contrário do que muitos pensam é o típico representante da classe média brasileira - apesar de ele não se encontrar nessa camada social. Aponta milhares de erros e faz críticas indignadas ao governo e à corrupção, o que está corretíssimo, mas não vai além da crítica. O mesmo acontece com grande parte dos 186 milhões de habitantes do nosso país.
A situação torna-se de uma desesperança caótica no momento em que se escuta um jovem de 18 anos dizendo que “é normal que haja roubo na política porque o sistema por si só foi feito para corromper”. Se tudo isso que acontece hoje na política for normal não haveria necessidade de que os processos contra Renan fossem votados – não existiria nem a necessidade da denúncia. Se for realmente normal não temos por que querer que os mensaleiros sejam julgados e presos, afinal de contas “as coisas são assim mesmo” e se não forem esses serão outros a fazer o mesmo. As pessoas perderam a capacidade de indignação.
Domingo passado houve na Redenção um protesto - anteriormente avisado aqui no Com Gás - contra toda a baixaria dos nossos governantes. Resultado: 30 pessoas. Alguns não foram porque era domingo, outros porque tiveram preguiça, outros porque já não acreditam que isso realmente sirva para alguma coisa. Não importa o motivo, o resultado de toda essa apatia é uma geração que dorme na frente da tevê e já não se importa com o que realmente é relevante.
O povo reunido já mudou muita coisa na nossa história e se agora está sendo diferente é por culpa nossa. É necessário que as pessoas tenham consciência do poder que têm, não como indivíduo só, mas como indivíduo inserido dentro de um contexto político social a fim de reescrever a história atual. É preciso que Mainardis que não acreditam que existam soluções reais dêem lugar a cidadãos que saibam do poder do grito da massa.
Carolina Marquis
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Desabafo
Então, para o desgosto de alguns que nos lêem procurando uma pseudo-intelectualidade social e política, escreverei sobre futebol. Não necessariamente comentando o mais cultuado esporte brasileiro, e sim; a minha sofrida - porém bela - relação com o Internacional. Nada melhor para se escrever depois de um Gre-nal perdido.
___________________________________________________________________________
Todo domingo é uma bosta, domingo que o Inter perde é um aborto. Eu me acostumei com isso, nasci na pior geração que podia para torcer pelo meu time. Mas agüentei na marra, com o incentivo de meu pai e sem dar bola para as camisetas e utensílios do Grêmio que parentes irracionais me davam na infância. Como disse o poeta Fabrício Carpinejar, “tecido de três listras era pijama”. O vermelho é mais raça, mais sangue, mais coração, embora seja também sofrimento. Muito eu sofri, o Clube do povo ganhou uma copa do Brasil em 1992 que eu, por ser demasiado criança, não me recordo. Depois disso, apenas Gauchão, e nada. Um buraco negro no Colorado, uma década de alegrias para o nosso rival, time de Paulo Nunes, Jardel e outros.
Os colegas na escola eram gremistas em tremenda maioria. Tive que aprender a dar respostas, a brigar, argumentar, mudar de assunto com agilidade toda segunda-feira. Por causa disso, odiei o azul e todos que gostavam dele, achava essas pessoas, realmente, arrogantes e insuportáveis. Óbvio, que tive momentos felizes, como quando ganhávamos os clássicos que vencemos bem mais que “eles”. O resto da alegria era torcer quando escapávamos de cair para a segunda divisão – lugar onde nunca pisamos, só para salientar. Mesmo assim, o maldito clube da Azenha gabava-se de títulos internacionais como: Libertadores e Campeão do Mundo.
Só que 16 anos depois que vim ao mundo, a coisa começou a mudar. Um ano que começou mal, perdendo o Gauchão para o Grêmio, acabou deliciosamente bem. No dia 16 de agosto eu estava em Porto Alegre, a cidade estava com o ar vermelho, era o Internacional campeão da Libertadores da América, triturando o São Paulo (até então, atual campeão do mundo). Conseguimos a vaga para o famoso e tão quisto mundial, mas de que jeito ganharíamos do Barcelona (não do Hamburgo), time de Deco, Ronaldinho Gaúcho, Puyol e companhia? Fácil: com garra, com determinação, com Edinho, Ceará, Iarley, Fernandão, Clemer, Adriano Gabiru, Fabiano Eller, Índio e toda a equipe introsada de Abel Braga.
Claro que torcer pelo Inter é saber sofrer, xingar jogador num dia e no outro venerá-lo, é gritar num ano o que não se gritou em vários. Torcer pelo Inter é padecer no paraíso. É um grande exemplo do amor, viver entre segundos a dor e a euforia.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Brasil mostra a tua cara!
No final das contas, quem morreu foi a moral do povo brasileiro.
Escândalo não são os crimes que nossos políticos cometem. Escândalo são as atitudes que são tomadas para “julgar” a falta de ética que paira sobre o país.
Sendo o Senado um local público, porque o pedido para que o julgamento do terceiro na linha de sucessão a Presidência da República fosse feito a portas fechadas, foi aceito?
Uma varredura como nunca vista antes, foi realizada na noite anterior no plenário do Senado para que nenhuma informação chegasse aos ouvidos da população. Computadores foram confiscados e celulares foram proibidos de serem usados. O Senador de um país foi julgado sem o conhecimento da população que o colocou no cargo.
Traição seria o sentimento que deveria correr em nossos sangues quentes?
Deveria, se a impunidade não batesse tantas vezes seguida em nossos rostos.
Se o voto secreto já era difícil de digerirmos, o que faremos agora para aceitar que seis senadores deixaram de votar em um dos maiores escândalos do Senado nacional?
O mesmo senador que insiste pelo seu voto no período das campanhas eleitorais - justificando que o ato de votar é democracia, que escolher um candidato é a maneira de participar da política - vota em BRANCO no julgamento que interfere diretamente na política do país.
Ter um senador que vota em BRANCO em um assunto de extrema importância para, a já desacreditada, política brasileira, é a prova de que para a nossa política melhorar, devemos mudar os políticos.
Enquanto senadores de seis partidos planejam dar um golpe nas futuras sessões presididas por Calheiros deixando de comparecer, nós temos o dever de nos manifestarmos.
Se o saudosismo desse blog é justificado por falta de atos como os dos anos 60 e 70, ele deixará de ser saudades para tornar-se presente. Se não temos uma ditadura, temos uma camada política podre. Sem importância com seu povo, dando valor aos seus interesses enquanto deveria ser responsável pelos direitos de 170 milhões de, ainda orgulhosos, brasileiros.
Se o Senado e o Renan se mataram, a indignação e a busca por justiça do povo não morreu.
A Bienal B apresenta a partir de amanha mais uma peça da campanha Outras Perspectivas, criada pela Paim Comunicações. Anagramas como o da imagem estão sendo veiculados na mídia, mostrando a indignação presente em todas classes sociais de brasileiros.
Já basta de tanto conformismo. Se não nos manifestarmos agora, que acarretemos todas injustiças e hipocrisias que estão por vir.
Os únicos que podem mudar essa situação somos nós.
Mais informações sobre o protesto domingo: www.artewebbrasil.com.br
Ricardo Araujo
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Perfil - I
Gente que virou história incomum, que vive no outro lado, que fez da vida curta mais um de seus excessos, e por isso; foram sucumbidos por ela. Mesmo assim, vivendo intensamente.
Syd Barret
Um louco nascia em Cambridge, Inglaterra, e anos mais tarde formava a banda Pink Floyd. Põe louco nisso! Com seus riffs de guitarra criativos, suas músicas psicodélicas, suas atuações andrógenas nos shows e suas loucuras regadas a LSD, Barret virou nome do Rock psicodélico.
Mas psicodélico não era só sua música. Waters exagerava mesmo no ácido, e o que era para melhorar sua criatividade, serviu para alucinar para sempre seu cérebro. São várias as histórias e lendas do primeiro vocalista e guitarrista do Floyd. Como a de quando trancou sua namorada no quarto por uma semana e apenas passava bolachas por debaixo da porta (escutem Lunático – Cachorro Grande). Ou quando filmou com uma Super-8 sua primeira viagem de LSD. Melhor: deu a droga ao seu gatinho de estimação que ficou lesado até a morte. Paranóias também ocorriam em sua cabeça, certa vez pintou todo o piso da sala de seu apartamento de vermelho e ficou preso no meio do recinto, em um colchão, até a tinta secar.
No palco, era realmente bom. Veja o que David Bowie, que criou o personagem Zig Star influenciado por Syd, comenta:
"Barrett teve uma influência enorme sobre mim, eu achava que Syd tinha um talento colossal. Ele foi o primeiro cara que eu vi no meio dos anos 60, que conseguia 'decorar' um palco. Possuía uma aparência mística, estranha, com unhas pintadas de preto e olhos maquiados. Ele serpenteava em volta do microfone, e eu pensava: 'esse cara é totalmente hipnótico!'"
Mas esse hipnótico artista não teve um fim de carreira feliz. Depois do primeiro disco da banda, The Piper of The Gates Down, o qual Barret assinou nove maravilhosas canções, ele pirou de vez. Para que a gravação do segundo disco ocorresse, tiveram que chamar o também vocalista e guitarrista David Gilmour, pois o antigo já não cantava, criava e tocava como antes. “Nós tínhamos que correr com o microfone atrás de Syd pelo estúdio, para que ele pudesse cantar”, comentou o baixista Waters em uma entrevista. E nos shows, também já não era o mesmo, falava palavras desconexas ao microfone e mudava as notas das músicas. Teve que sair da banda. Voltou a morar com sua mãe em um pequeno bairro inglês e lançou discos solos que apenas os fãs compravam.
O egocêntrico Roger Waters sempre sentiu sua falta, ajudou-o com os discos solos e criou várias músicas sobre ele, que estão presentes nos melhores álbuns da banda: The Dark Side of The Moon, The Wall e I Wish you were here. Esse último foi feito inteiramente em sua homenagem, inclusive durante as gravações, Barret apareceu nos estúdios gordo e barbudo, tão diferente que os próprios integrantes demoraram a reconhece-lo. Achavam que era um mendigo.
O homem foi um gênio do Rock’N Roll que poderia ter sido tão imortalizado e escutado como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, mas não foi por um simples motivo: a vida não o levou tão cedo, não o transformou em mártir, o deixou louco e esquecido, sem contatos, na mesma Cambridge em que nascera. Morreu tempos depois de ter parado de tocar, em 2006, com 60 anos. Já sofria com problemas intestinais e Diabetes. Sua família não autorizou que fosse divulgado mais nenhum detalhe da vida pessoal do músico. Certamente, ele queria assim.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Sarau Elétrico I

Estando sem dinheiro a semana inteira, nada melhor que um amigo para pagar uma boa garrafa de um vinho barato. Ao som dos últimos suspiros do Cazuza em um microfone – ele que era um assumido fã dos beat – bebemos todo o liquido com maior teor alcoólico que os vinhos normais. Um fator relevante na hora de sua escolha, além, de como já mencionado, o preço completamente acessível, pelo menos para nós, naquela ocasião.
Fazia calor, mas o vinho era necessário. Iríamos ao Sarau Elétrico cujo tema seria os destruidores do sonho americano, os beat. Sofrendo pela falta de vinho e ainda restando tempo, bebemos alguns copos de vodka com coca-cola, e, alguns cigarros depois, fomos até o bar Ocidente.
O Ocidente é considerado o berço da contracultura que virou cultura de Porto Alegre. Lá passaram músicos, poetas, escritores, boêmios, estudantes, vagabundos e todos responsáveis pela cultura (contracultura?) da capital. O Sarau Elétrico é um desses eventos que tu ouves falar e sempre tens vontade de ir. Tua ânsia por um lugar onde há efervescência de idéias contraculturais é suprida pela imagem que passam do Sarau. Isso até tu presenciares e criares a própria imagem do evento.
Pagamos um real a menos na entrada, e, graças a isso, tomamos mais algumas cervejas enquanto o aguardado evento não começava.
Sempre no Sarau, os “pensadores líderes” chamam um convidado especial ligado ao tema para acrescentar algo. Dessa vez – na vez em que iriam falar sobre os beat – resolveram convidar o Iotti, aquele mesmo que faz o Radicci.
Puta merda, o que o Radicci tem de beat?
Ou seria uma enorme surpresa, ou uma enorme decepção.
Enfim, começa o evento. Professor Fischer inicia lendo um fragmento do On the Road, do Kerouac. Na seqüência, Kátia Sumam, leu um poema do Uivo, do Ginsberg. E a partir desse momento, com dez minutos desde o início, o rumo do Sarau Elétrico começou a ficar claro. Claudia Tajes anunciou que leria Bukowski. Mas o que o velho safado tem a ver com os beat? E ainda por cima, deram mais atenção para a discussão de como se pronunciava o nome do velho Buk, do que para seu texto.
Para finalizar a primeira parte do Sarau Elétrico, professor Moreno, o Riquelme do time de intelectuais do Sarau, simplesmente resolve divagar sobre a Grécia. Tudo bem que tu sejas estudioso dos tempos clássicos e tudo mais. Mas não usa isso quando a proposta era falar sobre escritores dos anos 20!
Leram mais On the Road, mais Allen Ginsberg e novamente Claudia cometeu o percalço de ler John Fante. Sendo que ele, assim como seu fã numero um, Bukowski, não é Beat.
Eis que entra o Iotti na história: “Nem sei porque vocês me chamaram mas tudo bem”, diz o criador do colono mais famoso do Rio Grande do Sul.
Enquanto o professor Moreno insiste em falar da sua adorada Grécia, Iotti se revela o melhor dos cinco participantes ao contar uma única piada.
A platéia era constituída basicamente de, pelo estilo, pessoas que idolatram figuras do rock. Mas quando Kátia Sumam teve a infelicidade de, ao ler o prefácio de um livro do Kerouac - onde nomes de influenciados pelos beat, como Bob Dylan e Jim Morrinson eram mencionados - fazer o comentário dizendo que de quantas “coisas” ele poderia tê-la poupada, fomos embora ao som dos risos do público.
E ainda perdemos o show do Jimi Joe, que deveria estar se contorcendo na cadeira enquanto ouvia tudo aquilo.
*O ambiente é lindo.
Imagem retirada sem autorização do site do Sarau Eletrico. Foto Cynthia Vanzella.
Ricardo Araujo
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Os 50 anos de "On The Road"

Junto de Jack Kerouac estavam Allen Ginsberg, Willian Burroughs, Carl Solomon, Neal Cassady e outros tantos que imortalizaram seu movimento entre prosas e poemas, desmoralizando o “sonho americano”.

O livro do qual falo está nas lojas brasileiras traduzido por Eduardo Bueno e lançado pela editora L&PM. Escrito num estilo chamado “fluxo de consciência”, é fluvial e intenso como um solo de jazz, música adorada pelo autor. Feito pra ser rasteiro, o leitor sente a profundidade de cada diálogo e cada carona, de cada bar e cada transa carregada de vinho. Mas não é só de On The Road que vive Kerouac. Ele fez outros livros mais complexos e menos comercias que esse. Com destaques para The Dharma Bums (Vagabundos Ilumindos), Tristessa, Viajante Solitário e Geração Beat, todos lançados no país pela L&PM.
Em todos os livros beats, lemos uma mistura entre Rimbaud e Charlie Parker, uma rebeldia concreta suingada pela música negra, espiritualizada pelo budismo, gozada por bissexualismo direto e incrementada pela mais pura marginalidade. Coisas demais. Não é à toa que Kerouac enlouqueceu ao contrário, virou de direita, odiou seu próprio trabalho, não aprovou os hippies nem o que eles escutavam. Chegou ao ponto de votar no Nixon. Acreditem, no Nixon! Trancou-se a escutar seus apreciados discos de Jazz e morreu por consumo demasiado de bebida alcoólica.
Os clássicos da Beat Generation:
Seguem abaixo clássicos da geração que influenciou os Hippies, os Punks, Hunter Thompson, Bob Dylan, Johny Deep e mais centenas de jovens que fugiram de casa para viver:

O Uivo, para Carl Solomon: Conhecido poema de Allen Ginsberg, no qual ele descreve seu movimento: “Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, (...)”. O livro foi apreendido pela polícia de San Francisco, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena. Mas o poema foi liberado pela Suprema Corte americana, depois de um agitado julgamento, e vendeu milhões de exemplares. (Brasil, L&PM)
Almoço Nu: Willian Burroughs traz um amontoado
de imagens e informações que começam a se tornar brutalmente familiares. “O leitor é atirado de uma espelunca urbana cheia de viciados para o coração de uma floresta e depois para uma cidade que mais parece a projeção paranóide de todas as metrópoles do mundo.” (Ediouro, RJ)
O primeiro terço: Parte do diário de Neal Cassady, encontrado após sua morte. Nele entendemos bem sua relação com Kerouac, viagens e pensamentos do autor. (L&PM)
Bruno Goularte
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Proibido Proibir!

Discutem, com deveras freqüência, nas faculdades de comunicação social o fim do jornal impresso, a prostituição do jornalismo, e tantos outros assuntos justificados por causa dos meio eletrônicos que tomam conta de nossas singelas vidas. A discussão dura alguns anos. Professores, já não tão jovens, comentam da mesma discussão enquanto eram alunos. Porém, o catastrófico é que o fim desse motivador de confrontos de idéias está preste a ser encerrado, e não é por um jornalista. Mas sim pelo atual Secretário da Segurança de Porto Alegre, José Francisco Mallmann.
Não que ele irá sepultar o jornalismo, de maneira alguma, mas o jornalismo feito da maneira como retratado a alguns “post” abaixo, perderá suas esperanças de reencarnação para sempre, ou até quando a “Lei Seca” existir.
Mallmann deseja que as madrugadas do Rio Grande do Sul passem a ser vividas a base de cafés, chás, biscoitos, leite quente e cama. Ele propõe que a venda de bebidas alcoólicas em bares seja interrompida a partir da meia noite, até as quintas feiras, e a partir da uma hora da manha, nos finais de semana. E que os bares fiquem abertos normalmente até amanhecer, vendendo sucos, refrigerantes, batatas fritas e polentas com queijo, sem orégano.
Aqueles sujeitos que as seis da tarde, após oito horas de trabalho diário, dirigem-se direto ao bar de sua preferência – ou o mais próximo – passará a ter horário para retornar para casa. O boêmio, já tão raro de se encontrar nas ruas desse país afora, passará a ser literatura de escritores, provavelmente, tão contra essa lei. Passaremos a ouvir a lenda de boêmios existentes nos anos passados, ou na mente de pessoas como Bukowski, Joseph Mitchel, entre outros, tantos outros .
Mallmann justifica a terrível violência que assola Porto Alegre para a implementação da lei. Proibir as pessoas de beberem uma cerveja, ou qualquer outra bebida, é o caminho para a paz da capital gaúcha. E os tantos bandidos, movidos ao consumo de crack às três da tarde nas praças da cidade, ficam soltos porque não há lugares nos presídios do estado. E a educação de base, dizendo que se “beber não diriga”, papel do estado de conscientização, é feito por uma borboleta, que vive graças a uma fatalidade que aconteceu nas péssimas estradas gaúchas. E a educação de base, novamente, nas escolas públicas caindo aos pedaços no estado, onde 50 alunos, em uma turma, disputam a atenção do professor, que trabalha sendo mal remunerado. E o policiamento da cidade para controlar eventuais equívocos de bêbados. Não existe porque não possuem equipamentos adequados.
Proibir as pessoas de saírem de casa, certamente resolveria o problema da insegurança no estado.
Aprovar a Lei Seca é acabar com o direto de liberdade do povo. É regulá-lo, controlá-lo, para que nada fuja dos padrões.
Padrões criados por alguém que não se divertiu e riu e chorou e gritou e dormiu, em uma mesa de bar às quatro horas da madrugada, cercado de amigos, e depois de muitas cervejas, voltou a pé para casa, sem medo de ser assaltado.
Mitos do jornalismo, como Tarso de Castro, Nelson Rodrigues, Hunter Thompson, nascidos no meio da boemia, deixarão de serem criados. Não existirá quem use bares como lugar para reuniões de pautas. Não haverá bares que criem ambientas para a criação de pensamentos, a discussão de idéias, a organização de projetos. Não haverá mais copos de cerveja sendo erguidos como taças após a discussão generalizada de um assunto de pensadores. Não haverá mais pensadores, apenas pessoas ensinadas a pensar e a segurar um microfone em frente às câmeras.
Ricardo Araujo