Foi votada hoje a implementação de cotas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Após 15 dias do adiamento por pouco a votação não foi transferida novamente, atrasando, ainda mais, a busca de soluções para melhorar a desigualdade em que vivemos
Dados mostram que a maioria dos estudantes hoje, cursando o ensino superior no estado, ou são brancos, ou estudaram em escolas particulares. Um certo paradoxo, afinal uma universidade federal, visa, pela lógica, abrigar a população em geral, e não um público específico.
Implantada pela maioria dos votos, as cotas sociais e raciais entram em vigor já no próximo vestibular, em 2008. O projeto reserva 30% das vagas dos cursos para serem dividas em estudantes de escolas públicas e negros.
Falar que as cotas são uma discriminação, pois dividem as pessoas por cor da pele, é uma justificativa clichê para acomodados não perderem seus lugares. O preconceito no Brasil existe e é necessário que ele seja esquecido pela população. Com a implementação das cotas, salas de aulas onde existem poucos, ou quase nenhum, estudante negro, passarão a ter a diversidade que o Brasil tanto se orgulha de possuir. Pré-conceitos serão quebrados.
É fato que a implementação das cotas não é a melhor maneira de melhorar o descaso com a educação que insiste em pairar pelos ares tupiniquins. Porém, pelo menos um tabu, que é a discriminação, está tentando ser resolvido.
Com as cotas, os espaços nas faculdades serão mais concorridos. Não será qualquer pessoa que entrará. Não será qualquer um capaz de espancar uma pessoa em uma parada de ônibus, que vai estar na faculdade.
Talvez as cotas sirvam para melhorar o ensino básico, afinal, com as vagas mais concorridas, só estarão adeptos a entrar na universidade federal aqueles que melhor preparado estiverem, que puderam ter um ensino que desse base. Isso afeta diretamente a formação no ensino médio e fundamental, pois a preparação terá que ser melhor, o ensino terá que melhorar.
Um tanto quanto estranho essa situação, pois na maioria das vezes os problemas começam a ser resolvido no foco onde se encontram e não onde ele virou conseqüência de vários fatores.
Pelo menos uma ação foi tomada e pessoas que não tinham acesso a faculdades agora poderão ter. Em condições justas, visto que sua preparação não foi à mesma de seu concorrente, que teve acesso a um ensino de qualidade.
Talvez, seguindo a busca do texto anterior, nosso porta-voz não esteja nas músicas, mas sim surgiu graças a elas. Talvez nosso porta-voz seja os estudantes que invadiram a reitoria hoje e pressionaram para que a votação das cotas não fosse adiada mais uma vez. Talvez nosso porta-voz seja as pessoas que tentam fazer algo para mudar a situação em que nos encontramos, por meios de ações. Talvez nosso porta-voz use as músicas antigas como forma de inspiração e esperança. Esperança, pois nosso porta-voz sabe que o mundo já foi mudado, sabe que sempre há tempo para mudar, basta apenas, não esperar que surja alguém para fazer isso.
Ricardo Araujo