quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Proibido Proibir!


Discutem, com deveras freqüência, nas faculdades de comunicação social o fim do jornal impresso, a prostituição do jornalismo, e tantos outros assuntos justificados por causa dos meio eletrônicos que tomam conta de nossas singelas vidas. A discussão dura alguns anos. Professores, já não tão jovens, comentam da mesma discussão enquanto eram alunos. Porém, o catastrófico é que o fim desse motivador de confrontos de idéias está preste a ser encerrado, e não é por um jornalista. Mas sim pelo atual Secretário da Segurança de Porto Alegre, José Francisco Mallmann.

Não que ele irá sepultar o jornalismo, de maneira alguma, mas o jornalismo feito da maneira como retratado a alguns “post” abaixo, perderá suas esperanças de reencarnação para sempre, ou até quando a “Lei Seca” existir.

Mallmann deseja que as madrugadas do Rio Grande do Sul passem a ser vividas a base de cafés, chás, biscoitos, leite quente e cama. Ele propõe que a venda de bebidas alcoólicas em bares seja interrompida a partir da meia noite, até as quintas feiras, e a partir da uma hora da manha, nos finais de semana. E que os bares fiquem abertos normalmente até amanhecer, vendendo sucos, refrigerantes, batatas fritas e polentas com queijo, sem orégano.

Aqueles sujeitos que as seis da tarde, após oito horas de trabalho diário, dirigem-se direto ao bar de sua preferência – ou o mais próximo – passará a ter horário para retornar para casa. O boêmio, já tão raro de se encontrar nas ruas desse país afora, passará a ser literatura de escritores, provavelmente, tão contra essa lei. Passaremos a ouvir a lenda de boêmios existentes nos anos passados, ou na mente de pessoas como Bukowski, Joseph Mitchel, entre outros, tantos outros .

Mallmann justifica a terrível violência que assola Porto Alegre para a implementação da lei. Proibir as pessoas de beberem uma cerveja, ou qualquer outra bebida, é o caminho para a paz da capital gaúcha. E os tantos bandidos, movidos ao consumo de crack às três da tarde nas praças da cidade, ficam soltos porque não há lugares nos presídios do estado. E a educação de base, dizendo que se “beber não diriga”, papel do estado de conscientização, é feito por uma borboleta, que vive graças a uma fatalidade que aconteceu nas péssimas estradas gaúchas. E a educação de base, novamente, nas escolas públicas caindo aos pedaços no estado, onde 50 alunos, em uma turma, disputam a atenção do professor, que trabalha sendo mal remunerado. E o policiamento da cidade para controlar eventuais equívocos de bêbados. Não existe porque não possuem equipamentos adequados.

Proibir as pessoas de saírem de casa, certamente resolveria o problema da insegurança no estado.

Aprovar a Lei Seca é acabar com o direto de liberdade do povo. É regulá-lo, controlá-lo, para que nada fuja dos padrões.
Padrões criados por alguém que não se divertiu e riu e chorou e gritou e dormiu, em uma mesa de bar às quatro horas da madrugada, cercado de amigos, e depois de muitas cervejas, voltou a pé para casa, sem medo de ser assaltado.

Mitos do jornalismo, como Tarso de Castro, Nelson Rodrigues, Hunter Thompson, nascidos no meio da boemia, deixarão de serem criados. Não existirá quem use bares como lugar para reuniões de pautas. Não haverá bares que criem ambientas para a criação de pensamentos, a discussão de idéias, a organização de projetos. Não haverá mais copos de cerveja sendo erguidos como taças após a discussão generalizada de um assunto de pensadores. Não haverá mais pensadores, apenas pessoas ensinadas a pensar e a segurar um microfone em frente às câmeras.



Ricardo Araujo

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O errado ídolo certo



Esses dias, pela Internet, deparei-me com um texto que um colega mandou. É de uma psicóloga que demonstra alta preocupação quanto ao filme e a pessoa de Cazuza.

"...As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível... Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.."


Sim, suas letras são muito tocantes! Sim, ele era um marginal! Sim, seus pais não o criaram nada bem, de acordo com os valores éticos e morais da sociedade. Sou obrigado a concordar com a autora nestes três pontos. Mas se é por isso, não vamos idolatrar a maioria dos grandes poetas do mundo. Quase todos viveram à margem da sociedade e por isso eram bons no que faziam.
Então, vamos queimar na fogueira os livros de Rimbaud e aquele filme com o Leonardo Di Caprio. Afinal ele era gay, boêmio, drogado e traficou armas na África. Seus poemas eram muito bons, e até hoje ele é visto como um dos melhores. Adeus Byron, Gregório de Mattos Guerra, Álvarez de Azevedo, John Lennon, Nietzsche, Van Gogh, Ana C, Leminski, Bukowski, Kerouac, Allen Ginsberg, Carl Solomom e mais centenas dos melhores artistas que a vida conheceu. Todos uns malditos marginais!
Devemos entender suas concepções de vida e o que elas interferem nas suas obras, nada mais. Deixemos o resto para os atores da Globo e a revista Caras!

"Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não. "

Sim, até o cabelo dos dois é parecido!

"Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou."

Neste ponto do texto, ficam claras duas coisas: mais do que uma psicóloga, a autora é uma mãe preocupada com a cabeça fraca que a filha pode ter; ela não interpretou direito o filme. Não estou falando que ele é bom (longe disso), mas em nenhuma cena mostrou quer era certa a vida que o poeta levava - isto fica para o espectador julgar, o que ela não soube fazer direito.

"Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria?"

Também acho que o filme foi deveras apelativo, exagerou nas cenas de drogas e sexo. Mas também é importante mostrar isso, aliás ele foi quem foi, graças ao seu hedonismo poético, seu egoísmo de filho único e seu amor pela nova geração que se formava.
E ser correto dá Ibope sim. Já assistiram Malhação?

"Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor."

Esta é ótima! O argumento que eu mais gosto! Escutemos as palavras sábias dos publicitários da Fiat e não a do jovem que protestava por um Brasil melhor e por uma vida sem preconceitos.

"Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência (sic) da educação errônea a que foi submetido..."

Não só por tal motivo, mas também.

"Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar. Não se preocupem em ser amigo de seus filhos."

Os pais devem dar educação para seus filhos. Mas, se não houvesse "cazuzas" e demais marginais por ai. Os filhos, super bem educados, não teriam livros para ler pro vestibular.





*imagem do livro "Cazuza - Só as mães são felizes" e reduzida por direitos autorais.


Bruno Goularte

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Os Indiferentes

Anexo o texto “Os Indiferentes” (1917) do político, jornalista, filósofo e cientista político italiano Antonio Gramsci para que sirva de fonte para borbulhantes inspirações. Não deixem de ler.

“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; é aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite a agnosticismo e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e, sobretudo, do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.”



Carolina Marquis

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Psss. Silêncio!

O povo brasileiro, orgulhoso de toda sua diversidade, foi estudado e definido por profissionais quanto suas características. Definiram-no como um povo paternalista, dependendo sempre de algo ou de alguém. Patrimonialista, não distinguindo o que é público do que é privado, e ainda entendo que algo público não pertence a ninguém. Além der ser marcado como individualista.

Porém, o mais intrigante é a cultura que vive esse povo: a Cultura do Silêncio. Desde seu descobrimento, lá nos anos 1500, que o Brasil é explorado e se contenta em vender matéria-prima, achando que faz um grande negócio, da China isso sim.
Mas, para não acharem tão distante, reparem no que aconteceu dia 17 de agosto de 2007. Um mês após o maior acidente aéreo brasileiro. O povo, cansado de tanta omissão, corrupção e todos “ão” a mais, resolveu mostrar a cara e protestar. Maravilhoso!
Só que o protesto, intitulado “Cansei” , é feito com UM MINUTO de silêncio. Desde quando se protesta fazendo um minuto de silêncio?

A manifestação, antes mesmo de ser realizada, já criava discussões devido ao seu verdadeiro caráter. Organizada por membros da OAB, a qual não concordou em apoiar o projeto, fazendo com que apenas alguns membros da Ordem de Advogados Brasileiros participassem. O “Cansei” foi julgado também por ser extremamente voltado para a classe rica brasileira, mostrando interesse, apenas, quando o seu meio é interferido pelas barbáries que estão acontecendo no país. Tanto que quando uma protestante, não ligada ao projeto, tomou o microfone para criticar a instituição, a cidadã foi interrompida e retirado o direito de palavra. Eles são a nossa “justiça”.

Algo está errado nessa manifestação pela luta dos brasileiros!

Protestemos, contra a impunidade do nosso atual nicho de detentores dos altos cargos políticos, que depois de dois anos irão avaliar se o caso “mensalão” será julgado como crime. Nesse tempo, grande parte dos 40 envolvidos (sim 40 pessoas) no maior escândalo político brasileiro ficaram impunes a qualquer julgamento e punição, a não ser, serem retirados do governo.

Ah os anos passados, não distantes mais que meio século, onde milhares saiam às ruas e lutavam por seus ideais – e as causas comuns, sendo um pouco menos indivudualistas-. Gritavam, mesmo sendo proibidos de falar. Eram censurados e oprimidos, mas mesmo assim FALAVAM, e muito mais que um minuto; durante horas e dias e meses e anos e milhares de linhas de jornais.

Cansei de tanta passividade.
Cansei de tanto conformismo.
Cansei dessa Cultura do Silêncio.

Ricardo Araujo

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Mainardi é bicha

Uma sala de redação e aquela fumaça de cigarro pairando no ar, muito café para entrar madrugada adentro, histórias inteligentes e cínicas para serem escritas e comemoradas em um bar qualquer da cidade. Este sonho romântico e antigo é o de muitos jovens que entram em uma faculdade de jornalismo. Sonho que os professores se encarregam de destruir. E fazem isto muito bem. Esmagam utopias e esperam que seus alunos sejam apenas prostitutos da notícia.



Hoje em dia, nas redações não se fuma, não se toma café, quase não se usa chapéu e muito menos se pensa. “Jornalistas” escrevem suas matérias em um parágrafo, deixando o resto como mero opcional inútil. O romantismo acaba. E ainda temos que escutar “os técnicos da mídia” reclamando que os jornais impressos estão em crise. Ou assistirmos na televisão a infame propaganda da Folha de S.Paulo ao prever que o jornal do futuro será interpretativo – palavra que os defensores do Futuro Jornalismo adoram. Mas não entendo de que forma profissionais que sequer são preparados para pensar farão algo para o povo interpretar. Afinal as universidades ensinam a segurar um microfone, ou se posicionar em frente a câmeras, esquecendo disciplinas realmente importantes em cadeiras perdidas com o menor número de créditos possíveis. Para a maioria dos professores, o maior desafio dado aos estudantes é responder seis perguntas em um único parágrafo. Abaixo aos malditos leads!

Vamos ressuscitar a romântica profissão, vamos buscar o velho (ou o novo) lirismo, vamos inventar se não houver nada melhor há ser feito, vamos acabar com a ética boba que criam para a sacanagem rolar atrás de um manto moralista que tapa a tudo e a todos. Nem mesmo os políticos são politicamente corretos.

Está na hora dos alunos conhecerem os nomes que realmente causaram alguma coisa, sejam eles: Hunter Thompson, Nelson Rodrigues ou Tarso de Castro (leia matéria a baixo). Futuros jornalistas devem ser originais e acabar com a idéia de que Mainardi sabe escrever. Fazer com que renasça o que existiu há muito tempo na imprensa e que hoje ecoa na tosse carregada de pigarro do velho e decadente Paulo Sant’Ana. Trazer de volta o verdadeiro homem da noticia que zomba da imparcialidade, pois quando se escreve uma matéria até as impressões estéticas do autor desmoronam o fator neutro. Viva o parcial! Viva a mentira muito bem contada!

Bruno Goularte

O homem que não tinha medo (de amar de brigar de falar de viver)



Tarso de Castro era gaúcho e brizolista e Don Juan e gênio. A sua paixão pelo jornalismo abastecia de polêmica e graça a vida do leitor. Seja na Campanha da Legalidade, na Ditadura, ou nas diretas, encheu os mais diversos jornais de um lirismo criativo e absurdo, Destacou-se, primeiramente, no jornal Última Hora de Samuel Wainer, fundou o famoso “O Pasquim” e foi vitima do egocentrismo de jornalistas que ele mesmo criou, tais como Millôr Fernandes, Paulo Francis, Jaguar e Ziraldo.

No livro Tarso de Castro “75 kg de músculo e fúria”, o também jornalista Tom Cardoso conta histórias cômicas e dramáticas do mito biografado. Não poderia ser ruim. A vida de Tarso foi incrível, entre copos de uísque com Glauber Rocha em Ipanema, viagens com Caetano Veloso, farras com Chico Buarque, namoros com mulheres famosas, conversas com Tom Jobim e brigas com influentes personalidades, ele sempre se manteve o polêmico e processado, o bêbado e popular, o amante e apaixonado: o maldito romântico do jornalismo brasileiro.

A biografia faz você lembrar ou conhecer o grande esquecido por trás da imprensa nacional, "Eu queria escrever um perfil gostoso de ler e com um bom ritmo", explica o autor em uma rápida entrevista ao Blog Com Gás. Ele conseguiu.

Blog Com Gás - Por que Tarso de Castro?

Tom -
Meu pai, o também jornalista Jary Cardoso, trabalho com Tarso em duas publicações: "Folhetim" e "Já". Sempre foi um grande admirador do Tarso e tinha um projeto de escrever um livro sobre a imprensa alternativa. Durante muitos anos ele guardou tudo sobre o assunto, mas nunca se encorajou de escrever o livro. Então eu peguei o material e mandei bala!

Blog - Millôr Fernandes esboçou alguma reação contra as verdades que foram ditas sobre ele? E seus fãs?

Tom - Não. Nunca tive problemas com o Millôr. Nem sei se ele leu o livro. Mas seus fãs, que não são poucos, pegaram no meu pé sim! Não dei bola.

Blog - Tu achas que falta polêmica e lirismo, como o de Tarso, no jornalismo brasileiro de hoje?

Tom - Sim, o estilo de Tarso faz muita falta ao jornalismo atual. Hoje, ser politicamente correto, "ouvir o outro lado", é o mais valorizado. Mesmo no caso de um Diogo Mainardi. Não há originalidade na atitude dele. Ele é um imitador barato de Paulo Francis.


Por que esquecido?

Hoje em dia, ouvimos falar de vários nomes importantes no jornalismo brasileiro – Paulo Francis, Sérgio Cabral, Zuenir Ventura, Ricardo Kotscho, Millôr Fernandes - são alguns que seguidamente aparecem em conversas e aulas sobre a profissão. Mas por quais motivos o verdadeiro fundador do Pasquim e profissional brilhante é raramente ouvido?

Em conversas por e-mail, o jornalista e poeta Nei Duclós, que trabalhou com Castro e hoje vive em Santa Catarina, deu uma resposta. “Tarso era generoso num mundo mesquinho. Pagou alto o preço de ter distribuído seu talento e compartilhado suas vitórias. Acabaram roubando as conquistas dele, sequestraram-lhe o crédito”. Nei prosseguiu, ao invés de me dar um simples esclarecimento: deu-me um texto inteiro. Um bonito texto. Que compartilharei agora para que os leitores reflitam:

“Tarso batia forte, de A a Z. Escrevia o que lhe dava na telha. Tinha coragem. Sabia que a ditadura não estava apenas no Planalto, mas na cabeça de cada um. Atacava esses fortins com sua lança e sua palavra. Os caras de esquerda são de direita. Veja o governo Lula. Existe algo mais entreguista, traidor, vendilhão do que o governo Lula? A esquerda brasileira cumpre a escrita determinada pela direita: vendem o país e cobram comissão. Como poderão ser a favor do Tarso, egresso da Ultima Hora de Porto Alegre, que defendeu a Legalidade empunhando um Taurus 38 (revólver) de fabricação nacional? Eles reconhecem os verdadeiros inimigos. Tarso é perigosíssimo. O objetivo é enterrá-lo de todas as formas, apagar sua memória”.


Bruno Goularte


sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Conseqüências


A Crise Aérea que está estabelecida no Brasil não começou, como muitos pensam, com o acidente do vôo 1907 da Gol. Em 2003 o então Ministro da Defesa, José Viegas, entregou ao Palácio do Planalto um parecer de 20 páginas que falava sobre o possível colapso a que o sistema aéreo brasileiro estava sujeito, caso maiores investimentos não fossem destinados à situação dos aeroportos. Indo contra os presságios de Viegas, o Ministério da Fazenda optou por reduzir os gastos, e investiu apenas R$ 382 milhões dos R$ 455 milhões previstos no programa de Proteção ao Vôo e Segurança do Tráfego Aéreo. E o resto do dinheiro, onde foi parar?
Três anos se passaram e em 2006 os investimentos só diminuíram. Apenas 56% da verba destinada às melhorias no sistema aéreo foram efetivamente investidas. Este dinheiro deveria ser utilizado para modernização e manutenção do sistema de controle do tráfego aéreo, mas, mais uma vez, onde foi parar?
A situação calamitosa que caracteriza(va) o céu do Brasil só se tornou pública quando 154 pessoas perderam a vida no acidente do vôo 1907 da Gol com o avião americano Legacy.
Desde então houve operação tartaruga e os reclames dos operadores de Vôo que se queixavam das péssimas condições de trabalho a que estavam sendo submetidos; houve atrasos e mais atrasos em todos os aeroportos do Brasil; escutamos de Marta Suplicy, Ministra do Turismo, mandando-nos “relaxar e gozar” e mais milhares de situações que ultrajam os brasileiros.
Porém, há exatos trinta dias Congonhas foi palco do pior acidente aéreo da história da América Latina. O vôo TAM 3054 que saiu de Porto Alegre no dia 17 de Julho não completou sua aterrissagem em São Paulo e transformou 199 cidadãos em vítimas.
Depois desse acidente sem precedentes o que foi que efetivamente aconteceu? O Ministro da Defesa Nelson Jobim tomou o lugar de Waldir Pires, é verdade, mas e aí?
Na realidade todos somos vítimas desse acidente, deste Estado, deste país. Os nossos governantes fecharam os olhos e fizeram não se sabe o que com uma verba que deveria ser utilizada para assegurar a segurança da população brasileira. Isso é crime!!!
O que aumenta a nossa insegurança é pensar que outras situações absurdas das quais ainda não tomamos conhecimento estão prestes a estourar sobre nós, brasileiro.

Porque no Brasil é assim: nada de prevenção – só conseqüência.

Carolina Marquis

quinta-feira, 9 de agosto de 2007