sexta-feira, 29 de junho de 2007

Mudança(s) e Progresso

Foi votada hoje a implementação de cotas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Após 15 dias do adiamento por pouco a votação não foi transferida novamente, atrasando, ainda mais, a busca de soluções para melhorar a desigualdade em que vivemos

Dados mostram que a maioria dos estudantes hoje, cursando o ensino superior no estado, ou são brancos, ou estudaram em escolas particulares. Um certo paradoxo, afinal uma universidade federal, visa, pela lógica, abrigar a população em geral, e não um público específico.

Implantada pela maioria dos votos, as cotas sociais e raciais entram em vigor já no próximo vestibular, em 2008. O projeto reserva 30% das vagas dos cursos para serem dividas em estudantes de escolas públicas e negros.

Falar que as cotas são uma discriminação, pois dividem as pessoas por cor da pele, é uma justificativa clichê para acomodados não perderem seus lugares. O preconceito no Brasil existe e é necessário que ele seja esquecido pela população. Com a implementação das cotas, salas de aulas onde existem poucos, ou quase nenhum, estudante negro, passarão a ter a diversidade que o Brasil tanto se orgulha de possuir. Pré-conceitos serão quebrados.

É fato que a implementação das cotas não é a melhor maneira de melhorar o descaso com a educação que insiste em pairar pelos ares tupiniquins. Porém, pelo menos um tabu, que é a discriminação, está tentando ser resolvido.

Com as cotas, os espaços nas faculdades serão mais concorridos. Não será qualquer pessoa que entrará. Não será qualquer um capaz de espancar uma pessoa em uma parada de ônibus, que vai estar na faculdade.

Talvez as cotas sirvam para melhorar o ensino básico, afinal, com as vagas mais concorridas, só estarão adeptos a entrar na universidade federal aqueles que melhor preparado estiverem, que puderam ter um ensino que desse base. Isso afeta diretamente a formação no ensino médio e fundamental, pois a preparação terá que ser melhor, o ensino terá que melhorar.

Um tanto quanto estranho essa situação, pois na maioria das vezes os problemas começam a ser resolvido no foco onde se encontram e não onde ele virou conseqüência de vários fatores.

Pelo menos uma ação foi tomada e pessoas que não tinham acesso a faculdades agora poderão ter. Em condições justas, visto que sua preparação não foi à mesma de seu concorrente, que teve acesso a um ensino de qualidade.

Talvez, seguindo a busca do texto anterior, nosso porta-voz não esteja nas músicas, mas sim surgiu graças a elas. Talvez nosso porta-voz seja os estudantes que invadiram a reitoria hoje e pressionaram para que a votação das cotas não fosse adiada mais uma vez. Talvez nosso porta-voz seja as pessoas que tentam fazer algo para mudar a situação em que nos encontramos, por meios de ações. Talvez nosso porta-voz use as músicas antigas como forma de inspiração e esperança. Esperança, pois nosso porta-voz sabe que o mundo já foi mudado, sabe que sempre há tempo para mudar, basta apenas, não esperar que surja alguém para fazer isso.

Ricardo Araujo

8 comentários:

Cláudio Roberto Rizzih disse...

Legal seu blooooog
parabeins aeee
sucesso
(:

Jornalistas disse...

bem escrito.
finalmente vão fazer alguma coisa pra mudar a situação da educação no país.

Danielle Cardoso disse...

Sei lá...moro fora do Brasil...mas por algum motivo essa idéia de cota me parece um tanto estapafúrdia! no entanto gostei do texto! Bjos

Anônimo disse...

Confesso que eu sempre fui contra as cotas raciais. Defendia a tese que cotas só se fossem sociais e acima de tudo defendia uma reformulação no ensino básico brasileiro. Porém, hoje penso de outra forma. Depois de tantos debates e de tantas discussões tornei-me uma defensora das cotas. Acredito que o que foi escrito "Falar que as cotas são uma discriminação, pois dividem as pessoas por cor da pele, é uma justificativa clichê para acomodados não perderem seus lugares" é o resumo do pensamento de muitas pessoas.
Pode ser preconceito, mas quem são contra as cotas? os maiores anticotistas são estudantes de Medicina...o curso de uma pequena elite....eles sabem que sempre tiveram um bom estudo e um bom cursinho, desconhecem as dificuldades de uns (independente da cor/situação social) em entrar numa universidade. Eu sei o quanto demorei para entrar numa faculdade por causa dessa questão que universidade pública não foi feita para quem sempre dependeu do ensino público.
Parabéns pelo texto

Anônimo disse...

Constitucionalmente, não importa a cor, raça, sexo ou condição social que se tenha, todos os brasileiros possuem os mesmos deveres e, principalmente, os mesmos direitos. É claro que, teoricamente, tudo funciona. Infelizmente a prática não.

No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), das 22 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negras; entre os 53 milhões de pobres do país, 63% são pretos (nomenclatura oficial do IBGE).

Os dados apresentados ficam ainda mais assustadores quando focados no atual cenário do ensino superior brasileiro. Em um país com mais de 45% da população negra, a exclusão é devastadora: 97% dos universitários são brancos, contra 2% negros e 1 % amarelos.

Entretanto, o Brasil, mesmo que “discretamente”, é um país altamente racista e infestado pelo preconceito.

Com isso, é inquestionável que uma política pública inovadora que universalize as instituições de ensino superior seja realmente necessária. Porém, o sistema de cotas é a única solução?

Obrigar uma população a se dividir ao meio, tendo que escolher em qual “fila” irá querer ir: a dos brancos ou a dos negros, é delicado e – possivelmente – inconstitucional. Isso apenas evidencia que o caminho trilhado pelo infeliz governo talvez não seja o mais correto. E nem o mais aceito.

Índices da pesquisa encomendada pela Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares) ao Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) sobre o ensino particular, demonstram que 53% dos entrevistados são a favor da adoção de cotas para estudantes que vierem de escolas públicas. Apenas 36% apóiam as cotas com questão racial.

A curto prazo, é fácil esconder a vergonhosa defasagem do ensino fundamental e médio do país, maquiando o gigantesco abismo existente entre as classes sociais. Apenas reservar cadeiras nas universidades públicas não é e nunca foi uma tentativa clara de diminuir a desigualdade ou a exclusão racial. Pelo contrário, isso só estimula a divisão de raças e etnias em nossa sociedade.

Ademais, em nenhum momento estaremos desenvolvendo forças igualitárias que resolvam o déficit deixado pela escravidão. Vamos apenas reafirmar que nosso sistema educacional é falido. Iremos, mais uma vez, mascarar o problema já na sua consolidada podridão, em vez de reestruturá-lo na sua nascente, para que a terra-brasilis talvez tenha uma nova chance.

Anônimo disse...

Esqueci de mais um ponto: sou totalmente contra as cotas raciais. Cotas para alunos que venham do ensino público é uma coisa, mas cotas apra pessoas negras (só por serem negras) é, de fato, racismo.

Todos devem ter o direito á universidade. Por isso as cotas para alunos de baixa rende e de escolas públicas.

Acho meio contraditório vc afirmar que vamos acabar com a discriminação fazendo discriminação. A discriminação só vai acabar, quando acabar a discriminação.

Caso encontra algum documento que prove cientificamente que o negro é menos inteligente que o branco, ou o amarelo, ou o asiático, me mande, pois só assim vou acreditar que negros merecem cotas, pois, para mim, negros, brancos, amarelos formam apenas uma coisa: a raça humana, e não é a cor que faz a pessoa melhor ou pior.

Abraços! Continue opinando!

Edgar Steffens disse...

Eu li um livro bem interessante de um jornalista chamado Ali Kamel. O titulo é bom "Não Somos Racistas".
Ali ele mostra que o IBGE lista como negros todos que são diferentes de branco e amarelo. Ou seja, de preto mesmo o Brasil tem pouco. Temos de mulatos, cafusos, "chocolates" e etc..
Sou totalmente a favor de cotas para quem é POBRE. Afinal, aqui no RS não é muito dificil de se achar um loirinho de olhos azuis pobre. E esse mesmo só terá direito a 15% de cotas, pq os outros 15% ficam para os negros.
Sem contar nas pessoas que cursaram o ensino público, e tiveram SIM dinheiro para pagar um bom cursinho. É só fazer uma pesquisa bem simples e rápida que isso é facilmente constatado.
Então cotas para os POBRES, não para NEGROS.

Luidi disse...

Sou veementemente contra o sistem,a de cotas raciais. Principalmente porque sempre estudei em escola pública, e mesmo assim fiz o vestibular e passei duas vezes em universidade pública, no caso a UFPel. O sistema de cotas cria uma certa imagem de que os negros, coitadinhos, não podem estudar no mesmo colégio que os superpoderosos brancos, mesmo que a escola seja pública. O que é uma grande mentira. Além do que, isto é um enorm,e preconceito contra os brancos, como se isso fosse apagar a escravidão de outras épocas. Em seu texto vc cita ainda que no RS a maioria dos universitários são brancos... mas e a maior parte da população também não é????

E outra... se eu fosse melhor no vestiba, e mesmo assim perdesse minha vaga devido a obrigatoriedade de um negro ocupar a vaga, certamente recorreria a todas as instancias possíveis, e isso já vem ocorrendo, o que causa mais mal-estar ainda com relação ao preconceito.

Abraço.

[caroneiro.blogspot.com]