sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A Grande Vaia

Aviso aos navegantes:


Amanhã, dia 29 de setembro às 15 horas, acontecerá, na Esquina Democrática, mais um protesto contra a impunidade e a crise dafalta de ética que assola nosso país.
O protesto é uma movimentação chamada A Grande Vaia que ocorrerá em diversas capitais brasileiras.

Chega de pensar na novela e deixar a REALIDADE em segundo plano. Façamos algo por nosso país.
Carolina Marquis

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Poesia

O CD Trinta em Transe foi lançado no ano passado na Feira do Livro. Ele reúne 33 poetas gaúchos que leram seus trabalhos para a gravação. Escuta-se desde a poesia clássica de Glênio Fagundes e Martha Medeiros até o vanguardismo sonoro do Projeto Floco, ou o desajustado conto de Carlinhos Carneiro. É gente da antiga junto com a mais nova e efervescente geração de artistas do sul. Vale a pena conferir!

Leia, escute e obtenha mais informações sobre a obra e seus idealizadores no site : http://www.navevazia.com/trinta/


O que uma mulher quer? (faixa 11 do cd)
Fabricio Carpinejar

"Uma mulher não quer que o homem fique perguntando toda hora o que ela quer. Ela não quer ser definida, mas compreendida. Não pretende discutir relacionamentos no fim da noite, mas os filmes que ainda vai assistir, as expressões que ainda vai aprender. Uma mulher escolhe inúmeras vezes a roupa não porque é volúvel ou tem dificuldades de decisão, mas para ver seu corpo em seqüência. As roupas são o espelho, o espelho não é o espelho. O que a mulher quer está longe de significar um controle remoto, ela deseja que seus ouvidos sejam rezados com insistência, em voz e vela baixas. Ela deseja que o homem adivinhe seu desejo. Que fale palavras rudes com ternura, que fale palavras ternas com violência. Que a paixão seja inventada, não datilografada em sinais e segunda via. Porque quando uma mulher goza sai de seu corpo, o homem fica em seu corpo a assistindo. O que um mulher quer é visitar a mãe sem medo da mãe. Falar com o pai sem medo do pai. A mulher quer a inocência do medo da infância. O que uma mulher quer é uma piada que a faça rir bonita, não uma piada que a faça rir de qualquer jeito. O que uma mulher quer é que o homem feche a porta de noite para ela abrir de manhã. Ela quer ter um filho para não se matar de amor por uma única pessoa. Uma mulher quer a esperança de não ser ela, ao menos mensalmente. Ela quer falar com as amigas o que um homem não sabe ouvir. Ela não quer que o homem mude de assunto porque não o interessa. Quer que o homem entenda que nem sempre ele é seu assunto preferido. Ela quer dançar para outros homens para chamar o seu para perto. Ela quer dançar sem pensar que dança. Uma mulher quer ser restituída de seus erros, quer que acreditem nela quando mente, que duvidem dela quando fala a verdade. Uma mulher quer percorrer a saudade e não se abandonar. Uma mulher quer Deus estendido como uma praia vazia. Uma mulher quer ser perfeita dentro de suas imperfeições, detalhista em suas expedições pelas sobrancelhas. Uma mulher quer conversar para se perseguir. Quer ser olhada nos olhos, na cintura dos olhos. Quer que a janela se incline como um girassol. Quer ser a paisagem de sua cidade à noite. Quer ir vivendo o que não entende. Quer dizer o que sofre para não sofrer do mesmo jeito. Uma mulher quer descer do mundo em movimento. Ter sonhos eróticos para embaralhar as lembranças da semana anterior. Criar uma outra mulher dentro de si que a contraponha. Que seja legível como um pássaro no escuro, um rio no escuro, uma fruta na água. Uma mulher quer se sentir pressentida ao andar de costas, nunca chamada ou assobiada. Uma mulher quer descansar com afeto, sem intenções outras, ter os cabelos alisados e um colo, para perdoar o dia. Ela quer que o homem a ajude a enterrar o passado com direito a uma cruz e um nome. Que a ajude a desenterrar o futuro. Ela quer andar no mistério, mas de mãos dadas. Ela quer ser surpreendida com um beijo nos ombros, agradecer um espanto. Ela quer que a felicidade não seja permissão. Ela quer conferir se tudo vai dar certo para errar com vontade. Ela quer descobrir o que a vida quer dela nem tarde ou cedo demais. Ela quer que o homem feche as antigas relações e os frascos do banheiro. Uma mulher não quer que o homem fale por ela, como eu tentei fazer."


Bruno Goularte



sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Geração Coca-Cola

"Brasil
Mostra a tua cara"

Quando Cazuza cantou essas palavras às pessoas mostravam a cara. Hoje, quando escutamos essa mesma frase, quem mostra a cara são essas mesmas pessoas de anos atrás. Infelizmente!
Infelizmente porque na época em que eles ainda sofriam os resquícios da ditadura, quando a liberdade ainda era indefinida e quando o jovem era apenas um jovem, eles tinham, não a coragem, mas à vontade de mostrar a cara. E hoje, quando os jovens não sofrem mais pela ditadura, quando a liberdade não é nem discutida e quando o jovem é futuro da nação, eles nem se importam em pensar em mostrar a cara.
Alias, para que mostrar a cara?

Reclamar apenas não adianta. Criticar sem mostrar soluções não tem justificativa. Exigir respeito sentado na frente do computador não é o caminho certo. Não se preocupar em mudar (melhorar) o local onde vive é burrice, alienação, conformismo, é a grande parte dos jovens de hoje.

Na manifestação ocorrida no último dia 16, em Porto Alegre, das mil pessoas que foram avisadas e convidadas a participar, cerca de 30 estiveram lá. Sendo que dessas 30, mais ou menos 15, não foram avisadas no circulo dessas mil anteriores.
Se isso fosse um dado preocupante, pior é saber que das pessoas consideradas o futuro da nação, cerca de 10 “representantes” estiveram lá. Jovens recebiam panfletos, adesivos, viam a manifestação caminhando de lá para cá, protestando contra toda vergonha que acontece em nossa política, mas não se juntavam a ela. Enquanto isso, pessoas de 60 anos, ou mais, se interessavam, queriam saber o porque, contavam histórias e diziam que faziam a mesma coisa quando tinham nossa idade. Falavam que lutaram pelo Brizola, que encaram a ditadura, que pediram as Diretas Já. E, se juntavam na caminhada.

Mas, aquelas pessoas que mostraram a cara na época em que o Cazuza pediu para o Brasil se apresentar, foram às mesmas que organizaram a manifestação e ainda acreditam num país melhor. Que possuem o sentimento e a CONSCIÊNCIA de que pode haver mudança, se lutarmos por isso. Foram elas que não deixaram que a cara do Brasil fosse apresentada como a corrupção de Collor, como a ditadura dos militares, como a falta de caráter de políticos desonestos, como a violência e a guerra. Foram essas caras que se mostraram, nos seus 20 anos de idade, que mudaram o Brasil. E que agora, quando deveriam ver outras pessoas com 20 e poucos anos mudando a impunidade que está o país, saem às ruas, tomam as dores, e vão atrás de um país mais digno.

O futuro da nação é preocupante.




Ricardo Araujo

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Gritemos Juntos

Renan Calheiros não foi cassado. E agora? Esperar que os outros dois processos contra ele corram para, mais uma vez, ter a confirmação de que a desonestidade tem lugar privilegiado no Brasil? O dinheiro do CPMF que deveria ser investido na melhoria da saúde pública vai para algum lugar obscuro que não se sabe onde. Os investimentos em educação são ínfimos, o que está gerando cada vez mais desigualdade cultural e, por conseqüência, social. O problema do Brasil, ou melhor, dos brasileiros, é que eles pensam que o que acontece na política não os afeta. Estão errados, obviamente.

Esta semana assisti à palestra do colunista da revista Veja Diogo Mainardi. Parte do que ele fala tem coerência. Além disso, ele conta com um poder de persuasão que te faz, em um primeiro momento, dar mais crédito a suas palavras do que elas realmente merecem. Mainardi, ao contrário do que muitos pensam é o típico representante da classe média brasileira - apesar de ele não se encontrar nessa camada social. Aponta milhares de erros e faz críticas indignadas ao governo e à corrupção, o que está corretíssimo, mas não vai além da crítica. O mesmo acontece com grande parte dos 186 milhões de habitantes do nosso país.

A situação torna-se de uma desesperança caótica no momento em que se escuta um jovem de 18 anos dizendo que “é normal que haja roubo na política porque o sistema por si só foi feito para corromper”. Se tudo isso que acontece hoje na política for normal não haveria necessidade de que os processos contra Renan fossem votados – não existiria nem a necessidade da denúncia. Se for realmente normal não temos por que querer que os mensaleiros sejam julgados e presos, afinal de contas “as coisas são assim mesmo” e se não forem esses serão outros a fazer o mesmo. As pessoas perderam a capacidade de indignação.

Domingo passado houve na Redenção um protesto - anteriormente avisado aqui no Com Gás - contra toda a baixaria dos nossos governantes. Resultado: 30 pessoas. Alguns não foram porque era domingo, outros porque tiveram preguiça, outros porque já não acreditam que isso realmente sirva para alguma coisa. Não importa o motivo, o resultado de toda essa apatia é uma geração que dorme na frente da tevê e já não se importa com o que realmente é relevante.

O povo reunido já mudou muita coisa na nossa história e se agora está sendo diferente é por culpa nossa. É necessário que as pessoas tenham consciência do poder que têm, não como indivíduo só, mas como indivíduo inserido dentro de um contexto político social a fim de reescrever a história atual. É preciso que Mainardis que não acreditam que existam soluções reais dêem lugar a cidadãos que saibam do poder do grito da massa.

Carolina Marquis


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Desabafo

Percebi que ainda não falei de política no Com Gás. Ainda não expus meus ideais de tal assunto via internet. E por causa de um niilismo fingido que tento sustentar, não será hoje que eles perderão a virgindade. Aliás, esse tema está muito bem representado aqui, existem as palavras revoltadas de Ricardo Araújo que protestam a toda hipocrisia governamental, além do lindo e esclarecido texto da dama do blog, Carolina Marquis, sobre as conseqüências da crise Aérea.

Então, para o desgosto de alguns que nos lêem procurando uma pseudo-intelectualidade social e política, escreverei sobre futebol. Não necessariamente comentando o mais cultuado esporte brasileiro, e sim; a minha sofrida - porém bela - relação com o Internacional. Nada melhor para se escrever depois de um Gre-nal perdido.

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Todo domingo é uma bosta, domingo que o Inter perde é um aborto. Eu me acostumei com isso, nasci na pior geração que podia para torcer pelo meu time. Mas agüentei na marra, com o incentivo de meu pai e sem dar bola para as camisetas e utensílios do Grêmio que parentes irracionais me davam na infância. Como disse o poeta Fabrício Carpinejar, tecido de três listras era pijama”. O vermelho é mais raça, mais sangue, mais coração, embora seja também sofrimento. Muito eu sofri, o Clube do povo ganhou uma copa do Brasil em 1992 que eu, por ser demasiado criança, não me recordo. Depois disso, apenas Gauchão, e nada. Um buraco negro no Colorado, uma década de alegrias para o nosso rival, time de Paulo Nunes, Jardel e outros.


Os colegas na escola eram gremistas em tremenda maioria. Tive que aprender a dar respostas, a brigar, argumentar, mudar de assunto com agilidade toda segunda-feira. Por causa disso, odiei o azul e todos que gostavam dele, achava essas pessoas, realmente, arrogantes e insuportáveis. Óbvio, que tive momentos felizes, como quando ganhávamos os clássicos que vencemos bem mais que “eles”. O resto da alegria era torcer quando escapávamos de cair para a segunda divisão – lugar onde nunca pisamos, só para salientar. Mesmo assim, o maldito clube da Azenha gabava-se de títulos internacionais como: Libertadores e Campeão do Mundo.


Só que 16 anos depois que vim ao mundo, a coisa começou a mudar. Um ano que começou mal, perdendo o Gauchão para o Grêmio, acabou deliciosamente bem. No dia 16 de agosto eu estava em Porto Alegre, a cidade estava com o ar vermelho, era o Internacional campeão da Libertadores da América, triturando o São Paulo (até então, atual campeão do mundo). Conseguimos a vaga para o famoso e tão quisto mundial, mas de que jeito ganharíamos do Barcelona (não do Hamburgo), time de Deco, Ronaldinho Gaúcho, Puyol e companhia? Fácil: com garra, com determinação, com Edinho, Ceará, Iarley, Fernandão, Clemer, Adriano Gabiru, Fabiano Eller, Índio e toda a equipe introsada de Abel Braga.


Nesse dia, ao invés de tirar sarro daqueles colegas arrogantes, ou dos parentes irracionais, eu chorei e gritei sem voz a vitória presa em minha garganta. Porque aquilo, provou definitivamente que futebol é mais que um jogo qualquer.


Claro que torcer pelo Inter é saber sofrer, xingar jogador num dia e no outro venerá-lo, é gritar num ano o que não se gritou em vários. Torcer pelo Inter é padecer no paraíso. É um grande exemplo do amor, viver entre segundos a dor e a euforia.

O maior exemplo disso é o ano que estamos vivendo hoje. Ainda campeões do mundo e perdendo Gauchão, desclassificando da Libertadores, sem chances no Campeonato Brasileiro. Com certeza vamos melhorar, seja ano que vem ou daqui a mais dezesseis. Vale a pena torcer, e como vale!







Bruno Goularte

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Brasil mostra a tua cara!

Parafraseando o deputado Fernando Gabeira, um dia antes da votação sobre o caso do senador Renan Calheiros: “ou morre o Senado ou morre o Renan Calheiros”.
No final das contas, quem morreu foi a moral do povo brasileiro.

Escândalo não são os crimes que nossos políticos cometem. Escândalo são as atitudes que são tomadas para “julgar” a falta de ética que paira sobre o país.
Sendo o Senado um local público, porque o pedido para que o julgamento do terceiro na linha de sucessão a Presidência da República fosse feito a portas fechadas, foi aceito?

Uma varredura como nunca vista antes, foi realizada na noite anterior no plenário do Senado para que nenhuma informação chegasse aos ouvidos da população. Computadores foram confiscados e celulares foram proibidos de serem usados. O Senador de um país foi julgado sem o conhecimento da população que o colocou no cargo.

Traição seria o sentimento que deveria correr em nossos sangues quentes?
Deveria, se a impunidade não batesse tantas vezes seguida em nossos rostos.

Se o voto secreto já era difícil de digerirmos, o que faremos agora para aceitar que seis senadores deixaram de votar em um dos maiores escândalos do Senado nacional?

O mesmo senador que insiste pelo seu voto no período das campanhas eleitorais - justificando que o ato de votar é democracia, que escolher um candidato é a maneira de participar da política - vota em BRANCO no julgamento que interfere diretamente na política do país.

Ter um senador que vota em BRANCO em um assunto de extrema importância para, a já desacreditada, política brasileira, é a prova de que para a nossa política melhorar, devemos mudar os políticos.

Enquanto senadores de seis partidos planejam dar um golpe nas futuras sessões presididas por Calheiros deixando de comparecer, nós temos o dever de nos manifestarmos.

Se o saudosismo desse blog é justificado por falta de atos como os dos anos 60 e 70, ele deixará de ser saudades para tornar-se presente. Se não temos uma ditadura, temos uma camada política podre. Sem importância com seu povo, dando valor aos seus interesses enquanto deveria ser responsável pelos direitos de 170 milhões de, ainda orgulhosos, brasileiros.

Se o Senado e o Renan se mataram, a indignação e a busca por justiça do povo não morreu.


Domingo, dia 16, às 10 horas no Brique da Redenção, em frente ao Monumento do Expedicionário, na Redenção, em Porto Alegre, um protesto idealizado pelo site Artewebrasil contra toda vergonha que assola o Brasil será realizado. Faça chuva ou faça sol.
A Bienal B apresenta a partir de amanha mais uma peça da campanha Outras Perspectivas, criada pela Paim Comunicações. Anagramas como o da imagem estão sendo veiculados na mídia, mostrando a indignação presente em todas classes sociais de brasileiros.

Já basta de tanto conformismo. Se não nos manifestarmos agora, que acarretemos todas injustiças e hipocrisias que estão por vir.

Os únicos que podem mudar essa situação somos nós.


Mais informações sobre o protesto domingo:
www.artewebbrasil.com.br

Ricardo Araujo

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Perfil - I

A paixão dos marginais que comem a vida e soltam palavras e armas. A paixão dos poetas que comem o tempo e cospem ponteiros e facas. A paixão dos malditos que a vida os come.


Gente que
virou história incomum, que vive no outro lado, que fez da vida curta mais um de seus excessos, e por isso; foram sucumbidos por ela. Mesmo assim, vivendo intensamente.

Começa aqui, uma série de perfis mensais desses ícones que não sabiam se amavam a todos, ou se não amavam ninguém.


Syd Barret


Um louco nascia em Cambridge, Inglaterra, e anos mais tarde formava a banda Pink Floyd. Põe louco nisso! Com seus riffs de guitarra criativos, suas músicas psicodélicas, suas atuações andrógenas nos shows e suas loucuras regadas a LSD, Barret virou nome do Rock psicodélico.

Mas psicodélico não era só sua música. O gênio da banda de Roger Waters exagerava mesmo no ácido, e o que era para melhorar sua criatividade, serviu para alucinar para sempre seu cérebro. São várias as histórias e lendas do primeiro vocalista e guitarrista do Floyd. Como a de quando trancou sua namorada no quarto por uma semana e apenas passava bolachas por debaixo da porta (escutem Lunático – Cachorro Grande). Ou quando filmou com uma Super-8 sua primeira viagem de LSD. Melhor: deu a droga ao seu gatinho de estimação que ficou lesado até a morte. Paranóias também ocorriam em sua cabeça, certa vez pintou todo o piso da sala de seu apartamento de vermelho e ficou preso no meio do recinto, em um colchão, até a tinta secar.

No palco, era realmente bom. Veja o que David Bowie, que criou o personagem Zig Star influenciado por Syd, comenta:

"Barrett teve uma influência enorme sobre mim, eu achava que Syd tinha um talento colossal. Ele foi o primeiro cara que eu vi no meio dos anos 60, que conseguia 'decorar' um palco. Possuía uma aparência mística, estranha, com unhas pintadas de preto e olhos maquiados. Ele serpenteava em volta do microfone, e eu pensava: 'esse cara é totalmente hipnótico!'"

Mas esse hipnótico artista não teve um fim de carreira feliz. Depois do primeiro disco da banda, The Piper of The Gates Down, o qual Barret assinou nove maravilhosas canções, ele pirou de vez. Para que a gravação do segundo disco ocorresse, tiveram que chamar o também vocalista e guitarrista David Gilmour, pois o antigo já não cantava, criava e tocava como antes. “Nós tínhamos que correr com o microfone atrás de Syd pelo estúdio, para que ele pudesse cantar”, comentou o baixista Waters em uma entrevista. E nos shows, também já não era o mesmo, falava palavras desconexas ao microfone e mudava as notas das músicas. Teve que sair da banda. Voltou a morar com sua mãe em um pequeno bairro inglês e lançou discos solos que apenas os fãs compravam.

O egocêntrico Roger Waters sempre sentiu sua falta, ajudou-o com os discos solos e criou várias músicas sobre ele, que estão presentes nos melhores álbuns da banda: The Dark Side of The Moon, The Wall e I Wish you were here. Esse último foi feito inteiramente em sua homenagem, inclusive durante as gravações, Barret apareceu nos estúdios gordo e barbudo, tão diferente que os próprios integrantes demoraram a reconhece-lo. Achavam que era um mendigo.

O homem foi um gênio do Rock’N Roll que poderia ter sido tão imortalizado e escutado como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, mas não foi por um simples motivo: a vida não o levou tão cedo, não o transformou em mártir, o deixou louco e esquecido, sem contatos, na mesma Cambridge em que nascera. Morreu tempos depois de ter parado de tocar, em 2006, com 60 anos. Já sofria com problemas intestinais e Diabetes. Sua família não autorizou que fosse divulgado mais nenhum detalhe da vida pessoal do músico. Certamente, ele queria assim.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Sarau Elétrico I


Estando sem dinheiro a semana inteira, nada melhor que um amigo para pagar uma boa garrafa de um vinho barato. Ao som dos últimos suspiros do Cazuza em um microfone – ele que era um assumido fã dos beat – bebemos todo o liquido com maior teor alcoólico que os vinhos normais. Um fator relevante na hora de sua escolha, além, de como já mencionado, o preço completamente acessível, pelo menos para nós, naquela ocasião.

Fazia calor, mas o vinho era necessário. Iríamos ao Sarau Elétrico cujo tema seria os destruidores do sonho americano, os beat. Sofrendo pela falta de vinho e ainda restando tempo, bebemos alguns copos de vodka com coca-cola, e, alguns cigarros depois, fomos até o bar Ocidente.

O Ocidente é considerado o berço da contracultura que virou cultura de Porto Alegre. Lá passaram músicos, poetas, escritores, boêmios, estudantes, vagabundos e todos responsáveis pela cultura (contracultura?) da capital. O Sarau Elétrico é um desses eventos que tu ouves falar e sempre tens vontade de ir. Tua ânsia por um lugar onde há efervescência de idéias contraculturais é suprida pela imagem que passam do Sarau. Isso até tu presenciares e criares a própria imagem do evento.

Pagamos um real a menos na entrada, e, graças a isso, tomamos mais algumas cervejas enquanto o aguardado evento não começava.

Sempre no Sarau, os “pensadores líderes” chamam um convidado especial ligado ao tema para acrescentar algo. Dessa vez – na vez em que iriam falar sobre os beat – resolveram convidar o Iotti, aquele mesmo que faz o Radicci.

Puta merda, o que o Radicci tem de beat?

Ou seria uma enorme surpresa, ou uma enorme decepção.

Enfim, começa o evento. Professor Fischer inicia lendo um fragmento do On the Road, do Kerouac. Na seqüência, Kátia Sumam, leu um poema do Uivo, do Ginsberg. E a partir desse momento, com dez minutos desde o início, o rumo do Sarau Elétrico começou a ficar claro. Claudia Tajes anunciou que leria Bukowski. Mas o que o velho safado tem a ver com os beat? E ainda por cima, deram mais atenção para a discussão de como se pronunciava o nome do velho Buk, do que para seu texto.

Para finalizar a primeira parte do Sarau Elétrico, professor Moreno, o Riquelme do time de intelectuais do Sarau, simplesmente resolve divagar sobre a Grécia. Tudo bem que tu sejas estudioso dos tempos clássicos e tudo mais. Mas não usa isso quando a proposta era falar sobre escritores dos anos 20!

Leram mais On the Road, mais Allen Ginsberg e novamente Claudia cometeu o percalço de ler John Fante. Sendo que ele, assim como seu fã numero um, Bukowski, não é Beat.

Eis que entra o Iotti na história: “Nem sei porque vocês me chamaram mas tudo bem”, diz o criador do colono mais famoso do Rio Grande do Sul.

Enquanto o professor Moreno insiste em falar da sua adorada Grécia, Iotti se revela o melhor dos cinco participantes ao contar uma única piada.

A platéia era constituída basicamente de, pelo estilo, pessoas que idolatram figuras do rock. Mas quando Kátia Sumam teve a infelicidade de, ao ler o prefácio de um livro do Kerouac - onde nomes de influenciados pelos beat, como Bob Dylan e Jim Morrinson eram mencionados - fazer o comentário dizendo que de quantas “coisas” ele poderia tê-la poupada, fomos embora ao som dos risos do público.

E ainda perdemos o show do Jimi Joe, que deveria estar se contorcendo na cadeira enquanto ouvia tudo aquilo.


*O ambiente é lindo.
Imagem retirada sem autorização do site do Sarau Eletrico. Foto
Cynthia Vanzella.


Ricardo Araujo

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Os 50 anos de "On The Road"


Resolvi escrever sobre os cinqüenta anos do livro “On The Road” (Pé na estrada) de Jack Kerouac, marco da Geração Beatnick. Para isso, sentei-me a olhar as paredes e pensar, botei Billie Holiday no som e acabei com uma garrafa do vagabundo vinho Santa Ana. Agora, no teclado do computador, penso em uma citação de Sal Paradise - alter-ego de Kerouac – “Para mim, as únicas pessoas são as loucas, as que são loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, que querem tudo ao mesmo tempo, aquelas que nunca bocejam nem dizem um lugar-comum”. E era exatamente assim que pensavam os Beatnicks, grupo de escritores bêbados que com suas mochilas atravessaram, de carona, os Estados Unidos, conheceram bares mexicanos e freqüentaram os mais obscuros ambientes.

Junto de Jack Kerouac estavam Allen Ginsberg, Willian Burroughs, Carl Solomon, Neal Cassady e outros tantos que imortalizaram seu movimento entre prosas e poemas, desmoralizando o “sonho americano”.

O livro do qual falo está nas lojas brasileiras traduzido por Eduardo Bueno e lançado pela editora L&PM. Escrito num estilo chamado “fluxo de consciência”, é fluvial e intenso como um solo de jazz, música adorada pelo autor. Feito pra ser rasteiro, o leitor sente a profundidade de cada diálogo e cada carona, de cada bar e cada transa carregada de vinho. Mas não é só de On The Road que vive Kerouac. Ele fez outros livros mais complexos e menos comercias que esse. Com destaques para The Dharma Bums (Vagabundos Ilumindos), Tristessa, Viajante Solitário e Geração Beat, todos lançados no país pela L&PM.

Em todos os livros beats, lemos uma mistura entre Rimbaud e Charlie Parker, uma rebeldia concreta suingada pela música negra, espiritualizada pelo budismo, gozada por bissexualismo direto e incrementada pela mais pura marginalidade. Coisas demais. Não é à toa que Kerouac enlouqueceu ao contrário, virou de direita, odiou seu próprio trabalho, não aprovou os hippies nem o que eles escutavam. Chegou ao ponto de votar no Nixon. Acreditem, no Nixon! Trancou-se a escutar seus apreciados discos de Jazz e morreu por consumo demasiado de bebida alcoólica.

Os clássicos da Beat Generation:
Seguem abaixo clássicos da geração que influenciou os Hippies, os Punks, Hunter Thompson, Bob Dylan, Johny Deep e mais centenas de jovens que fugiram de casa para viver:


O Uivo, para Carl Solomon: Conhecido poema de Allen Ginsberg, no qual ele descreve seu movimento: “Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, (...)”. O livro foi apreendido pela polícia de San Francisco, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena. Mas o poema foi liberado pela Suprema Corte americana, depois de um agitado julgamento, e vendeu milhões de exemplares. (Brasil, L&PM)


Almoço Nu: Willian Burroughs traz um amontoado de imagens e informações que começam a se tornar brutalmente familiares. “O leitor é atirado de uma espelunca urbana cheia de viciados para o coração de uma floresta e depois para uma cidade que mais parece a projeção paranóide de todas as metrópoles do mundo.” (Ediouro, RJ)

O primeiro terço: Parte do diário de Neal Cassady, encontrado após sua morte. Nele entendemos bem sua relação com Kerouac, viagens e pensamentos do autor. (L&PM)



Bruno Goularte