segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O homem que não tinha medo (de amar de brigar de falar de viver)



Tarso de Castro era gaúcho e brizolista e Don Juan e gênio. A sua paixão pelo jornalismo abastecia de polêmica e graça a vida do leitor. Seja na Campanha da Legalidade, na Ditadura, ou nas diretas, encheu os mais diversos jornais de um lirismo criativo e absurdo, Destacou-se, primeiramente, no jornal Última Hora de Samuel Wainer, fundou o famoso “O Pasquim” e foi vitima do egocentrismo de jornalistas que ele mesmo criou, tais como Millôr Fernandes, Paulo Francis, Jaguar e Ziraldo.

No livro Tarso de Castro “75 kg de músculo e fúria”, o também jornalista Tom Cardoso conta histórias cômicas e dramáticas do mito biografado. Não poderia ser ruim. A vida de Tarso foi incrível, entre copos de uísque com Glauber Rocha em Ipanema, viagens com Caetano Veloso, farras com Chico Buarque, namoros com mulheres famosas, conversas com Tom Jobim e brigas com influentes personalidades, ele sempre se manteve o polêmico e processado, o bêbado e popular, o amante e apaixonado: o maldito romântico do jornalismo brasileiro.

A biografia faz você lembrar ou conhecer o grande esquecido por trás da imprensa nacional, "Eu queria escrever um perfil gostoso de ler e com um bom ritmo", explica o autor em uma rápida entrevista ao Blog Com Gás. Ele conseguiu.

Blog Com Gás - Por que Tarso de Castro?

Tom -
Meu pai, o também jornalista Jary Cardoso, trabalho com Tarso em duas publicações: "Folhetim" e "Já". Sempre foi um grande admirador do Tarso e tinha um projeto de escrever um livro sobre a imprensa alternativa. Durante muitos anos ele guardou tudo sobre o assunto, mas nunca se encorajou de escrever o livro. Então eu peguei o material e mandei bala!

Blog - Millôr Fernandes esboçou alguma reação contra as verdades que foram ditas sobre ele? E seus fãs?

Tom - Não. Nunca tive problemas com o Millôr. Nem sei se ele leu o livro. Mas seus fãs, que não são poucos, pegaram no meu pé sim! Não dei bola.

Blog - Tu achas que falta polêmica e lirismo, como o de Tarso, no jornalismo brasileiro de hoje?

Tom - Sim, o estilo de Tarso faz muita falta ao jornalismo atual. Hoje, ser politicamente correto, "ouvir o outro lado", é o mais valorizado. Mesmo no caso de um Diogo Mainardi. Não há originalidade na atitude dele. Ele é um imitador barato de Paulo Francis.


Por que esquecido?

Hoje em dia, ouvimos falar de vários nomes importantes no jornalismo brasileiro – Paulo Francis, Sérgio Cabral, Zuenir Ventura, Ricardo Kotscho, Millôr Fernandes - são alguns que seguidamente aparecem em conversas e aulas sobre a profissão. Mas por quais motivos o verdadeiro fundador do Pasquim e profissional brilhante é raramente ouvido?

Em conversas por e-mail, o jornalista e poeta Nei Duclós, que trabalhou com Castro e hoje vive em Santa Catarina, deu uma resposta. “Tarso era generoso num mundo mesquinho. Pagou alto o preço de ter distribuído seu talento e compartilhado suas vitórias. Acabaram roubando as conquistas dele, sequestraram-lhe o crédito”. Nei prosseguiu, ao invés de me dar um simples esclarecimento: deu-me um texto inteiro. Um bonito texto. Que compartilharei agora para que os leitores reflitam:

“Tarso batia forte, de A a Z. Escrevia o que lhe dava na telha. Tinha coragem. Sabia que a ditadura não estava apenas no Planalto, mas na cabeça de cada um. Atacava esses fortins com sua lança e sua palavra. Os caras de esquerda são de direita. Veja o governo Lula. Existe algo mais entreguista, traidor, vendilhão do que o governo Lula? A esquerda brasileira cumpre a escrita determinada pela direita: vendem o país e cobram comissão. Como poderão ser a favor do Tarso, egresso da Ultima Hora de Porto Alegre, que defendeu a Legalidade empunhando um Taurus 38 (revólver) de fabricação nacional? Eles reconhecem os verdadeiros inimigos. Tarso é perigosíssimo. O objetivo é enterrá-lo de todas as formas, apagar sua memória”.


Bruno Goularte


Um comentário:

Jornalistas disse...

Bah, muito bom.
Eu fico pensando em como tu conseguiu uma entrevista com o autor... isso foi foda.
abraço.