segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Mainardi é bicha

Uma sala de redação e aquela fumaça de cigarro pairando no ar, muito café para entrar madrugada adentro, histórias inteligentes e cínicas para serem escritas e comemoradas em um bar qualquer da cidade. Este sonho romântico e antigo é o de muitos jovens que entram em uma faculdade de jornalismo. Sonho que os professores se encarregam de destruir. E fazem isto muito bem. Esmagam utopias e esperam que seus alunos sejam apenas prostitutos da notícia.



Hoje em dia, nas redações não se fuma, não se toma café, quase não se usa chapéu e muito menos se pensa. “Jornalistas” escrevem suas matérias em um parágrafo, deixando o resto como mero opcional inútil. O romantismo acaba. E ainda temos que escutar “os técnicos da mídia” reclamando que os jornais impressos estão em crise. Ou assistirmos na televisão a infame propaganda da Folha de S.Paulo ao prever que o jornal do futuro será interpretativo – palavra que os defensores do Futuro Jornalismo adoram. Mas não entendo de que forma profissionais que sequer são preparados para pensar farão algo para o povo interpretar. Afinal as universidades ensinam a segurar um microfone, ou se posicionar em frente a câmeras, esquecendo disciplinas realmente importantes em cadeiras perdidas com o menor número de créditos possíveis. Para a maioria dos professores, o maior desafio dado aos estudantes é responder seis perguntas em um único parágrafo. Abaixo aos malditos leads!

Vamos ressuscitar a romântica profissão, vamos buscar o velho (ou o novo) lirismo, vamos inventar se não houver nada melhor há ser feito, vamos acabar com a ética boba que criam para a sacanagem rolar atrás de um manto moralista que tapa a tudo e a todos. Nem mesmo os políticos são politicamente corretos.

Está na hora dos alunos conhecerem os nomes que realmente causaram alguma coisa, sejam eles: Hunter Thompson, Nelson Rodrigues ou Tarso de Castro (leia matéria a baixo). Futuros jornalistas devem ser originais e acabar com a idéia de que Mainardi sabe escrever. Fazer com que renasça o que existiu há muito tempo na imprensa e que hoje ecoa na tosse carregada de pigarro do velho e decadente Paulo Sant’Ana. Trazer de volta o verdadeiro homem da noticia que zomba da imparcialidade, pois quando se escreve uma matéria até as impressões estéticas do autor desmoronam o fator neutro. Viva o parcial! Viva a mentira muito bem contada!

Bruno Goularte

14 comentários:

Nei Duclós disse...

Não era "romantismo", vai por mim. Era jornalismo mesmo. O "romantismo" foi enterrado por essa geração que você cita e admira, pois o romantismo era o parnasianismo, a fricolagem, a besteiragem, entende? O jornalismo mesmo, feito com pigarro, café e cigarro, era contra o romantismo, mas isso não quer dizer que fosse inumano, como é hoje. Esse jornalismo inaugurado por Mario Filho, Samuel Wainer, Joel Silveira, e na área de interpretação, Franklin de Oliveira, Otto Maria Carpeaux, e depois tudo desaguou no Pasquim, pois o Pasquim foi a reação, a resistência à morte do jornalismo, a sacanagem que tomou conta de novo da nação depois de 1964. Chamar de romantismo serve para enterrar o jornalismo feito naquele tempo. Era um jornalismo corajoso, partidário, de denúncia, super bem escrito. Daquele nicho saíram textos primorosos. Com o assassinato do Pasquim, a imprensa voltou a ser o que era na Belle Époque.

Unknown disse...

nunca pensei q existissem blogs desse tipo ^^

de qualquer jeito, tah comentado :)

Unknown disse...

er... agora q eu li de novo meu comentário... ficou meio ambíguo neh...

soh queria ratificar q eu gostei do blog

Musa de Caminhoneiro disse...

Pois é, Bruno...eu já pensei com você. Hoje, já ficaria feliz em ver textos de jornal sem erros crassos de Português.

bruno disse...

Nei, talvez eu tenha expressado mal mesmo. Queria caracterizar o que entendo por jornalismo. Aquilo que é muito diferente do que hoje entitulam de tal.

Ton! disse...

Simplesmente um ótimo texto. Penso muito nisso tbm.

Entretanto, Mainardi sabe escrever sim, mas o que vale são as diferentes opiniões.

E é Folha de S.Paulo, e não Folha de São Paulo. Pode conferir, pegue o jornal ou entre no site!

Abraço!

KARAM VALDO disse...

Perfeito!

KARAM VALDO disse...

Divido com vc as palavras de um mestre:

Numa novela, uma casa ou uma pessoa tem seu significado, sua existência, inteiramente a partir do escritor. No jornalismo, uma casa ou pessoa tem apenas o mais limitado dos seus significados através do repórter. Seu verdadeiro significado é muito maior (...) A busca de uma realidade exige uma linguagem capaz de captá-la. Esta linguagem não é uma fuga. É o único caminho para nos levar à débil captação de uma sociedade e de suas contradições. E da única coisa que interessa: o ser humano sufocado em sua vontade de ser. (M. Faerman)

Eliane! disse...

E viva Hunter Thompson!!! sou fã dele.

Mas antes de tudo, Bruno, o texto é ótimo, sério. Ainda acho que jornalita bom fica na internet com seus blogs. Não vai para a redeção moderninha feita de gente 'técnica'. Abaixo o lead. Eu odeio lead.

E queremos mais aulas com o Biz!

Eu concordo com muita coisa que tu falou. Não no saudosismo que tu tens pois sou contra qualquer forma de saudosismo por achar que devemos dar cara a nossa geração. Porém, falta é conteúdo e vontade. Mas achei muito bonita a forma com que tu escreveste. Bom se a grande maioria dos estudantes de jornalismo pensassem assim. Bom se eles não se deixassem seduzir por um microfone, uma câmara e um símbolo RBS. Bom seria se eles criticassem nem que seja um palmo na frente do nariz.

Eu sigo na minha fazendo o que acho que sou capaz para colocar em prática o que penso. Nem que para isso eu tenha que aguentar as chatas aulas de tele.

Abraços.

Eliane! disse...

E vem aí Diogo Mainardi no 20º Set Universitário.

bruno disse...

Essa palestra do Mainardi, vai ser muito interessante!

Jornalistas disse...

Faz um manifesto.

bruno disse...

O Godoh já fez!
Aconselho a todos.

Anônimo disse...

Tah, mas eu só não entendi o bicha?
O que que ser bicha ou não tem haver?