segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O errado ídolo certo



Esses dias, pela Internet, deparei-me com um texto que um colega mandou. É de uma psicóloga que demonstra alta preocupação quanto ao filme e a pessoa de Cazuza.

"...As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível... Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.."


Sim, suas letras são muito tocantes! Sim, ele era um marginal! Sim, seus pais não o criaram nada bem, de acordo com os valores éticos e morais da sociedade. Sou obrigado a concordar com a autora nestes três pontos. Mas se é por isso, não vamos idolatrar a maioria dos grandes poetas do mundo. Quase todos viveram à margem da sociedade e por isso eram bons no que faziam.
Então, vamos queimar na fogueira os livros de Rimbaud e aquele filme com o Leonardo Di Caprio. Afinal ele era gay, boêmio, drogado e traficou armas na África. Seus poemas eram muito bons, e até hoje ele é visto como um dos melhores. Adeus Byron, Gregório de Mattos Guerra, Álvarez de Azevedo, John Lennon, Nietzsche, Van Gogh, Ana C, Leminski, Bukowski, Kerouac, Allen Ginsberg, Carl Solomom e mais centenas dos melhores artistas que a vida conheceu. Todos uns malditos marginais!
Devemos entender suas concepções de vida e o que elas interferem nas suas obras, nada mais. Deixemos o resto para os atores da Globo e a revista Caras!

"Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não. "

Sim, até o cabelo dos dois é parecido!

"Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou."

Neste ponto do texto, ficam claras duas coisas: mais do que uma psicóloga, a autora é uma mãe preocupada com a cabeça fraca que a filha pode ter; ela não interpretou direito o filme. Não estou falando que ele é bom (longe disso), mas em nenhuma cena mostrou quer era certa a vida que o poeta levava - isto fica para o espectador julgar, o que ela não soube fazer direito.

"Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria?"

Também acho que o filme foi deveras apelativo, exagerou nas cenas de drogas e sexo. Mas também é importante mostrar isso, aliás ele foi quem foi, graças ao seu hedonismo poético, seu egoísmo de filho único e seu amor pela nova geração que se formava.
E ser correto dá Ibope sim. Já assistiram Malhação?

"Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor."

Esta é ótima! O argumento que eu mais gosto! Escutemos as palavras sábias dos publicitários da Fiat e não a do jovem que protestava por um Brasil melhor e por uma vida sem preconceitos.

"Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência (sic) da educação errônea a que foi submetido..."

Não só por tal motivo, mas também.

"Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar. Não se preocupem em ser amigo de seus filhos."

Os pais devem dar educação para seus filhos. Mas, se não houvesse "cazuzas" e demais marginais por ai. Os filhos, super bem educados, não teriam livros para ler pro vestibular.





*imagem do livro "Cazuza - Só as mães são felizes" e reduzida por direitos autorais.


Bruno Goularte

10 comentários:

Anônimo disse...

E essa senhora é psicóloga. Ela que estudou o "problemático, louco, pervertido" Freud,interpretá o Cazuza como um erro da humanidade, uma droga que ao ser lida, vista, escutada, pode viciar e te influenciar para o mau caminho( concepção de certo e errado dela)

Suspiros profundos

bruno disse...

eu ia botar o Freud ali, mas vamos dizer que ia ser pegar pesado demais.

Jornalistas disse...

Freud adorava uma cocaína.


Tem que matar o otário que fica passando esse tipo de texto pela internet.

Six disse...

Não confundam , ela quis referenciar o ponto de "não educar filhos a lá cazuza" e essas coisas, (espero eu)
Mas isso vai de cada um, pai, mãe e educadores... Eles ajudam na infancia, mas qualquer adolescentes acéfalo que ver Cazuza e o "imitar é realmente um problema a ser tratado, isso que ela quis dizer(espero eu)

Esses textops são comuns, "nao deixem seu filho ouvir Raul, nao deixem seus filhos jogar GTA, e todas essas merdas". Psicologos da "old school" não tao manjando muito comportamento precose de hoje...enfim, xinguem ela e Não FREUD, sim ? hehehe

Com Gás - 500ml de Conteúdo disse...

Mateus: "As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza?"

Ela quis ofender cazuza, e não referenciar... depois ela referenciou xingando.

Também acho que esses psicólogos da "escola" que citaste não manjam nada.


E não vi ninguém xingar o Freud por aqui.



Bruno

Musa de Caminhoneiro disse...

Só concordo quando ela diz que o cazuza era mimado. Mas será que essa senhora não entende que reverenciar o trabalho artistico de uma pessoa não é o mesmo que reverenciar a pessoa?

Anônimo disse...

Pobre mente a dessa mulher. Senso crítico é uma coisa que ela não possui.

Logo, ela assiste qualquer coisa e escreve um texto vergonhoso como esse.

Sinceramente, eu fiquei com vergonha pelas palavras dela...

Abraços

Jornalistas disse...

Pois é, ninguém xingou Freud.
Se foi por aquilo que eu disse sobre a cocaína não é nada mais do que a verdade.
O cara adorava cheirar mesmo, isso é fato.

KARAM VALDO disse...

"Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder"

Fábio Jaques disse...

Havia uma passagem no filme que resume bem o assunto:

"Existe o certo, o errado e todo o resto"