
Discutem, com deveras freqüência, nas faculdades de comunicação social o fim do jornal impresso, a prostituição do jornalismo, e tantos outros assuntos justificados por causa dos meio eletrônicos que tomam conta de nossas singelas vidas. A discussão dura alguns anos. Professores, já não tão jovens, comentam da mesma discussão enquanto eram alunos. Porém, o catastrófico é que o fim desse motivador de confrontos de idéias está preste a ser encerrado, e não é por um jornalista. Mas sim pelo atual Secretário da Segurança de Porto Alegre, José Francisco Mallmann.
Não que ele irá sepultar o jornalismo, de maneira alguma, mas o jornalismo feito da maneira como retratado a alguns “post” abaixo, perderá suas esperanças de reencarnação para sempre, ou até quando a “Lei Seca” existir.
Mallmann deseja que as madrugadas do Rio Grande do Sul passem a ser vividas a base de cafés, chás, biscoitos, leite quente e cama. Ele propõe que a venda de bebidas alcoólicas em bares seja interrompida a partir da meia noite, até as quintas feiras, e a partir da uma hora da manha, nos finais de semana. E que os bares fiquem abertos normalmente até amanhecer, vendendo sucos, refrigerantes, batatas fritas e polentas com queijo, sem orégano.
Aqueles sujeitos que as seis da tarde, após oito horas de trabalho diário, dirigem-se direto ao bar de sua preferência – ou o mais próximo – passará a ter horário para retornar para casa. O boêmio, já tão raro de se encontrar nas ruas desse país afora, passará a ser literatura de escritores, provavelmente, tão contra essa lei. Passaremos a ouvir a lenda de boêmios existentes nos anos passados, ou na mente de pessoas como Bukowski, Joseph Mitchel, entre outros, tantos outros .
Mallmann justifica a terrível violência que assola Porto Alegre para a implementação da lei. Proibir as pessoas de beberem uma cerveja, ou qualquer outra bebida, é o caminho para a paz da capital gaúcha. E os tantos bandidos, movidos ao consumo de crack às três da tarde nas praças da cidade, ficam soltos porque não há lugares nos presídios do estado. E a educação de base, dizendo que se “beber não diriga”, papel do estado de conscientização, é feito por uma borboleta, que vive graças a uma fatalidade que aconteceu nas péssimas estradas gaúchas. E a educação de base, novamente, nas escolas públicas caindo aos pedaços no estado, onde 50 alunos, em uma turma, disputam a atenção do professor, que trabalha sendo mal remunerado. E o policiamento da cidade para controlar eventuais equívocos de bêbados. Não existe porque não possuem equipamentos adequados.
Proibir as pessoas de saírem de casa, certamente resolveria o problema da insegurança no estado.
Aprovar a Lei Seca é acabar com o direto de liberdade do povo. É regulá-lo, controlá-lo, para que nada fuja dos padrões.
Padrões criados por alguém que não se divertiu e riu e chorou e gritou e dormiu, em uma mesa de bar às quatro horas da madrugada, cercado de amigos, e depois de muitas cervejas, voltou a pé para casa, sem medo de ser assaltado.
Mitos do jornalismo, como Tarso de Castro, Nelson Rodrigues, Hunter Thompson, nascidos no meio da boemia, deixarão de serem criados. Não existirá quem use bares como lugar para reuniões de pautas. Não haverá bares que criem ambientas para a criação de pensamentos, a discussão de idéias, a organização de projetos. Não haverá mais copos de cerveja sendo erguidos como taças após a discussão generalizada de um assunto de pensadores. Não haverá mais pensadores, apenas pessoas ensinadas a pensar e a segurar um microfone em frente às câmeras.
Ricardo Araujo